Era previsível que uma das primeiras perguntas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse sobre a atuação do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que na véspera não só elevou o juro em 1 ponto percentual como antecipou outra paulada "da mesma magnitude" na próxima reunião, no dia 19 de março.
— Não esperava milagre — disse Lula, que criticou duramente o antecessor, Roberto Campos Neto, por elevar a Selic.
Durante a entrevista transmitida ao vivo, o dólar, que havia voltado ao patamar de R$ 5,90 antes do início, recuou ao nível de R$ 5,80. Mas com um detalhe: chegou a reduzir a alta da faixa de 0,7% para a de 0,3%, mas voltou à de 0,5% depois que Lula afirmou:
— Se depender de mim, não haverá outra medida fiscal.
A entrevista terminou com alta do dólar equivalente à menos da metade do que estava quando começou. Mas ainda em leve alta pela primeira vez depois de oito sessões de baixa, até porque Lula afirmou que a polêmica proposta de isentar de Imposto de Renda para quem ganha mais de R$ 5 mil está em "reformulação" e vai para o Congresso.
Lula reiterou o que disse em vídeo no final do ano passado, durante a fase mais aguda da alta do dólar:
— Agora temos um presidente do BC da maior competência. Eu chamei e disse 'Galípolo, você é meu amigo, mas é presidente do Banco Central e vai ter autonomia total. Faça o que for necessário fazer'.
Não deixou de observar que "o povo e o Brasil esperam que a taxa de juro seja a menor, dentro do possível, para que possa haver mais investimento e crescimento sustentável, para gerar mais emprego.
Depois de ser acusado de minar seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e virtual sucessor para disputar a Presidência, Lula também fez um desagravo:
— As pessoas que passaram o ano inteiro falando do famoso déficit deveriam pedir desculpas a Haddad, dizer 'a gente não acreditou em você, a gente duvidou de você'. As pessoas que falam coisas erradas não têm hombridade para dizer 'nós erramos'.
Mas o próprio presidente errou ao dizer que, se não fosse a ajuda ao Rio Grande do Sul, o resultado seria de superávit. Conforme analistas, o déficit deve ser de 0,1% já descontados os créditos extraordinários concedidos para ajudar na reconstrução depois da enchente de maio de 2024.
Mercado dividido sobre Galípolo
Argumentos de quem vê falcão
1. A citação da desancoragem das expectativas de inflação, que ainda estão muito acima da meta.
2. O alerta sobre o papel da política fiscal e "seu impacto sobre a política monetária e os ativos financeiros".
Argumentos de quem vê pomba
1. Ter deixado em aberto a decisão da segunda reunião à frente, de 7 de maio.
2. A inclusão como fator de possível baixa da inflação a desaceleração da atividade econômica doméstica, ainda não caracterizada.