De tão diplomática, a resposta da Meta aos questionamentos da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre as mudanças em sua política de moderação gerou desconfiança. Quem viu a violência verbal do dono de Facebook, Instagram e Theads, Mark Zuckerberg fica intrigado.
É implicância, alguém pode observar: se Zuckerberg muda é criticado, se a Meta diz que tudo fica igual, gera dúvida. Mas é bom lembrar que Zuckerberg gravou um vídeo institucional – não foi flagrado ao acaso em um bar – dizendo que "os países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar às empresas que retirem as coisas ("things" no original) discretamente".
No documento de quatro páginas, a Meta diz que a substituição do Programa de Verificação de Fatos pela política de "notas da comunidade" só tem efeito nos Estados Unidos. Mas já avisou que será um teste, antes da expansão a outros países.
Então, a pergunta que não quer calar é: se não chegará ao Brasil tão cedo, porque as regras da nova estratégia já estão até disponíveis em português?
Para lembrar
A coluna já mencionou estudo do respeitado Massachusetts Institute of Technology (MIT) segundo o qual uma informação falsa tem em média 70% mais de probabilidade de ser compartilhada do que uma notícia verdadeira, que consome seis vezes mais tempo do que as fake news para atingir meras 1,5 mil pessoas (veja as conclusões de 2018 clicando aqui).
Ainda segundo esse levantamento, o discurso de ódio engaja mais do que vídeo de gatinho. Desperta mais reações, de compartilhamentos a novas postagens. Ex-funcionários do Facebook expuseram que os algoritmos que regulam a disseminação das postagens alimentam conteúdos violentos para gerar mais engajamento (clique aqui para ler uma das mais recentes, de Frances Haugen em 2021).
Sem regulação nas redes sociais e com excesso de tolerância ao intolerável, a campanha eleitoral espelha uma arriscada elevação de tom na vida cotidiana. A regulação das redes sociais não é diferente do controle ao qual estão submetidas todas as demais atividades. Não é censura, é responsabilização. Como agora todos os envolvidos no absurdo episódio devem ser, tanto por agressão física quanto por agressão verbal.