O Ministério da Previdência Social tem o maior orçamento da União. Para comparar, enquanto neste ano deve administrar cerca de R$ 1 trilhão, a Saúde gerencia ao redor de R$ 245 bilhões e a Educação, perto de R$ 225 bilhões. Isso significa quase cinco vezes mais do que duas áreas reconhecidamente essenciais.
E mesmo tendo assumido responsabilidade pela escolha do presidente do INSS sob o qual foi detectada uma das maiores fraudes no setor público já detectadas no país, Carlos Lupi segue no cargo, como se nada o relacionasse ao escândalo.
Não satisfeito com a permanência que constrange tanto o Estado quanto o governo de plantão, considerou pertinente advertir ao país, na segunda-feira (28) que "o INSS não é o botequim da esquina". Esse é exatamente o motivo pelo qual já deveria ter cedido o cargo para alguém mais diligente.
A expressão foi usada durante reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) para ilustrar a "justificativa" de que as cifras do escândalo são maiúsculas porque tudo no INSS é "grandioso". Por cumprir papel essencial para milhões de brasileiros e absorver quase metade de todo o orçamento produtivo da União, o INSS exige uma administração vigiada de forma implacável.
O que se diz sobre o conformismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com uma clara má gestão no INSS e, por decorrência, no ministério, é que só exigiria a saída de Carlos Lupi se houvesse comprovação do envolvimento do aliado envolvimento no esquema que saqueou aposentados e pensionista.
Também na segunda-feira (28), o motivo ficou mais claro: o ministério foi sequestrado por correligionários de Lupi. O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG), disse que, se Lula demitisse Lupi, também demitiria o partido do governo, ou seja, ameaçou romper caso um caso claro de má gestão tivesse consequências.
É famosa a frase "não negocio com sequestradores". Na prática, muitas vezes não se aplica, dado o desespero provocado nessas circunstâncias. Nesse caso, porém, a sobrevivência de alguma imagem de transparência e responsabilidade na gestão de um orçamento trilionário exige sua aplicação. Não se pode negociar com sequestradores de ministério. Nem tolerar ironia autoinfligida: o INSS não deve ser, de fato, o botequim da esquina.
Conforme a Polícia Federal, o dinheiro furtado dos beneficiários do INSS pode ter beneficiado servidores do próprio órgão. Uma pessoa, Antonio Carlos Camilo Antunes, aparece no relatório como sócio de 21 empresas, das quais 19 foram criadas a partir de 2022 e ao menos quatro foram usadas na "farra do INSS".
Parte dessas empresas são sociedades de propósito específico (SPEs), que permite esconder os verdadeiros sócios. Pode ter parecido em algum momento, mas a fraude não servia para reforçar entidades associativas ou sindicatos. Era esquemão mesmo, para roubar até de pobres para enriquecer os "espertos".