
Impossível fechar os olhos para a matança de mulheres e para as ameaças crescentes que têm lotado as delegacias especializadas no Rio Grande do Sul. A incapacidade dos órgãos públicos de lidar com o problema é visível e inegável.
As vítimas de agressão não são prioridade (se fossem, não ficariam oito horas na fila esperando atendimento, como mostrou a repórter Adriana Irion). Mas há algo mais por trás desse fenômeno.
Esse "algo mais" é uma mudança de cultura e o ressentimento de homens que simplesmente não admitem ouvir "não".
A verdade é que nós, mulheres, mudamos. Não aceitamos mais o que, no passado, parecia "inevitável". Não admitimos ser subjugadas pelo machismo e pela masculinidade tóxica, para usar uma expressão da moda (sinal dos tempos).
Cansamos de ficar caladas diante da desfaçatez de homens que seguem agarrados a costumes do século passado. Muitos deles ainda não entenderam que o mundo mudou. As mulheres não são mais propriedade de ninguém.
No tempo das nossas avós, era comum ouvir justificativas injustificáveis:
— É assim mesmo, minha filha, é coisa de homem.
Coisa de homem? Só se for das cavernas.
Por trás dos feminicídios e das agressões, que têm atingido também os filhos, estão sujeitos que não admitem conviver com mulheres independentes e donas de si mesmas — e elas são cada vez mais numerosas.
A violência, em parte, é fruto disso, aliada a um orgulho estúpido de seres que se vangloriam de ser brutos. Afinal, eles aprenderam que isso é ser "macho" e, nos últimos anos, viram e ouviram discursos semelhantes ganhando espaço na política nacional.
Sorte das mulheres que nunca encontraram um tipo desses pelo caminho. Precisamos quebrar esse ciclo infame e ensinar os nossos meninos de que não, ser homem não é nada disso.