
Em sua sétima queda consecutiva, o dólar teve nova baixa de 0,68% nesta segunda-feira (28), para R$ 5,648. Como a guerra comercial, que tem sido determinante para câmbio e bolsas em todo o mundo, segue em banho-maria, o que atraiu mais a atenção do mercado foi o cenário doméstico, focado na hipótese de menor intensidade da alta no juro.
Declarações do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, em evento do Banco Safra relativizam expectativas sobre os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne na próxima semana para definir o juro básico.
— A economia ainda demanda nossa vigilância no que é o nosso mandato principal, a preocupação corrente com uma inflação acima da meta, e a economia ainda demonstrando sinais ainda incipientes de arrefecimento — afirmou o presidente do BC.
As novas observações corrigiram apostas de que o ciclo de alta teria terminado, que surgiram a partir de declarações de um diretor do BC, Diogo Guillen. Na semana passada, ele mencionou mais "flexibilidade" e "cautela" nas decisões diante do cenário internacional, o que foi interpretado como menos apetite por alta.
Como anunciou o Fundo Monetário Internacional (FMI), o tarifaço de Trump deve desacelerar a economia global – portanto, Brasil incluído. Isso poderia permitir que o juro não precisasse subir muito mais para arrefecer a atividade interna. Por outro lado, o governo Lula segue adotando medidas na contramão, como o crédito consignado no setor privado, o que torna as previsões ainda mais difíceis.
Uma alta no juro está contratada para maio, mas há dúvida sobre o percentual do aumento e até sobre a possibilidade de o BC identificar mudanças nas projeções – objetivamente, houve – que o façam descumprir a crônica anunciada de um novo aumento.
— Sempre existe o desejo de identificar qual é a variável, mas a gente quer reunir o maior número possível de variáveis para ter confiança de que o processo de aperto monetário está levando a inflação para onde a gente quer — complementou um misterioso Galípolo em uma das últimas manifestações públicas antes do período de silêncio que antecede as reuniões do Copom.
Em tese, quando maior a Selic, maior seria o atrativo do Brasil a investidores estrangeiros. Isso significa que aplicações aqui dentro seriam melhor remuneradas. No entanto, nos últimos dias o que tem se visto é uma erosão no conceito de "porto seguro" dos títulos do Tesouro americano. Isso se traduz no potencial de atrair capital externo mesmo sem novas altas.
No ranking geral, o Brasil está em quarto lugar no juro real (Selic com desconto da inflação). Mas os três primeiros têm riscos muitíssimo maiores: Turquia, Argentina e Rússia.
*Colaborou João Pedro Cecchini