
Ao anunciar os resultados do primeiro trimestre nesta terça-feira (29), o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, anunciou o cancelamento de um aporte previsto pela empresa no México. A decisão de não aplicar cerca de US$ 600 milhões tem origem no tarifaço de Donald Trump.
– Vamos cancelar esse investimento. Não só pelo que tem acontecido agora, no debate sobre tarifas, mas pelo que projetamos para o mercado automotivo, já que o aporte seria para isso. Entendemos que essa questão de tarifas globais vai trazer mudanças estruturais que impactarão o negócio de aços especiais no México – detalhou Werneck.
Em entrevista à coluna, o CEO já havia relatado "queda muito grande de pedidos no setor automotivo" em decorrência do novo cenário. No Brasil, Werneck confirmou os projetos já em andamento, mas reforçou a intenção de rever o volume de investimentos caso o governo não adote medidas que impeçam a entrada maciça de aço chinês no país, que saltou do nível histórico de 10% para perto de 20%.
– Está vencendo no final de maio o primeiro ano de implantação de um mecanismo totalmente ineficaz. Em vez de regredirem, as importações de aço chinês cresceram. A indústria não quer proteção, não precisa. A Gerdau, nos seus quase 125 anos, tem sido muito competitiva. Precisamos de defesa comercial para que se criem condições isonômicas de concorrência – afirmou Werneck.
Conforme o executivo, até o final de maio, dependendo da adoção de novos mecanismos, poderá haver uma "redução mais significativa" dos investimentos no Brasil:
– Vai passar pelo que vai acontecer ou não no mês de maio se seremos mais arrojados ou não na revisão de investimentos.
Werneck disse ver "com muita preocupação" o potencial encolhimento adicional da indústria:
– Se o governo não se mexer, pode haver impacto grande na aceleração da desindustrialização.
Durante a longa exposição sobre os problemas provocados pela "invasão de aço chinês", Werneck acabou fazendo uma confidência: disse que a necessidade de revisão do mecanismo de defesa do Brasil foi "o" tema durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à unidade da Gerdau em Ouro Branco (MG):
– Foi o tema mais debatido entre nós na visita, no tempo atrás do palco. Foi "o" tema debatido. Na nova linha de produção, fui muito vocal ao dizer que tomamos a decisão de fazer esse investimento há quatro anos, aplicamos bilhões de reais. Isso pronto, vou vender para quem?
A coluna perguntou se a hipótese de fechar unidades caso não haja medidas adicionais do governo está no horizonte, e Werneck confirmou:
— Sim, está na mesa. Não sei dizer exatamente as medidas que vamos tomar, mas caso as medidas sigam ineficazes e o volume de aço importado siga crescendo, é quase inevitável que a empresa faça alguma hibernação, alguma redução de capacidade.
No primeiro trimestre, a Gerdau teve lucro líquido ajustado de R$ 758 milhões entre janeiro e março, enquanto a receita líquida somou R$ 17,4 bilhões, com vendas físicas de aço alcançaram 2,9 milhões de toneladas. Conforme Rafael Japur, diretor financeiro da companhia, no período a empresa "tradicionalmente" consome fluxo de caixa, por isso esse indicador ficou abaixo das expectativas.