
As comparações entre o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o que ocupou o cargo entre 1969 e 1974, Richard Nixon, começaram cedo. Uma das primeiras relações foi sobre a "teoria do louco", a ameaça de usar armas nucleares para atemorizar a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Como ninguém entendia a ênfase de Trump nas tarifas, havia a tese de que seria uma nova "teoria do louco". Não era: nesse ponto, Nixon nunca passou da ameaça.
Na economia, foi além. Na noite de 15 de agosto de 1971, anunciou em rede nacional de TV o fim do "padrão ouro", sistema de conversibilidade que atrelava a cotação do dólar à do metal precioso. Quebrou regra essencial estabelecida no acordo de Bretton Woods, que definiu as bases da estabilidade econômica depois da Segunda Guerra Mundial.
Há 54 anos, como há poucos dias, as bolsas de valores desabaram. O "choque de Nixon" incluía uma tarifa geral de 10% sobre as importações e controles temporários de preços e salários para controlar a inflação.
A mais recente tese sobre o irracional tarifaço é de que Trump quer fazer com o dólar algo semelhante ao que Nixon fez com o ouro: retirar uma âncora global para "ganhar" com a desvalorização da própria moeda.
Em tese, dólar mais fraco favoreceria a compra de produtos americanos por outros países, o que reduziria o grande déficit dos EUA no comércio internacional. Na prática, é o que vem ocorrendo: a moeda americana perde valor ante euro, iene e franco suíço, outras denominações de referência.
No entanto, os efeitos colaterais do tarifaço vão muito além: empresas americanas estão cortando viagens, atrasando projetos e desacelerando contratações porque não conseguem ver o que vem pela frente. Se essa for a mira de Trump, será preciso olhar com mais detalhe outra tese que circula nos meios econômicos americanos: "É o estúpido, estúpido".
Nixon teve de renunciar depois de acabar com o padrão-ouro. O motivo formal foi seu envolvimento no escândalo de Watergate, um arrombamento para roubo de informações conduzido por ordem da Casa Branca em uma sede do partido democrata. O mal-estar na economia, porém, pesou para que houvesse expectativa de que um impeachment poderia derrubar o então presidente.
O índice S&P 500, o mais abrangente da bolsa de Nova York, acumula queda ao redor de 8% desde a posse de Trump, que completa cem dias no governo na quarta-feira (30). Caminha para o pior desempenho neste período desde Gerald Ford, em 1974. Depois da renúncia de Nixon.