Enquanto 70% das empresas gaúchas enfrentam falta de chips, componentes eletrônicos que comandam operações complexas dos cartões de crédito e débito aos automóveis, uma operação que poderia redefinir o futuro do setor de micreletrônica no país segue indefinida.
O processo de extinção da Ceitec, em Porto Alegre, está travado no Tribunal de Contas da União. Pelas irregularidades no encaminhamento apontadas por técnicos do órgão de controle? Não, por uma circunstância mais prosaica: uma disputa sobre o terreno.
Quando entrevistou o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, a coluna indagou se não havia contradição entre a forma como a crise no fornecimento de semicondutores atingia o Brasil e a extinção de uma empresa que produzia o material.
— De forma alguma. A Ceitec não fabrica nem de longe o tipo de semicondutores que falta no mundo. Foi criada com equipamento sucateado da Motorola para fabricar semicondutores de duas gerações passadas. Ninguém se interessava pelo que produzia. Fabricava fuscas enquanto o mundo dirige BMWs. Não resolveria nosso problema. Ao contrário, o que pode facilitar o atingimento do objetivo para o qual foi criada é a perspectiva de que, a partir do momento em que for operada por um agente privado, deixe de produzir equipamentos que ninguém quer comprar e produza semicondutores em benefício da economia brasileira — foi a resposta de Mac Cord.
Segundo Mac Cord, a Ceitec teve "muito tempo para se provar" como uma empresa essencial, mas "não se provou". Ainda conforme o secretário, foi realizada uma sondagem de mercado para averiguar se haveria interesse no mercado para comprar a empresa "inteira", mas não houve candidatos.
— Aí se optou por liquidar, mas isso não significa que não possa haver interessados na compra do prédio para fabricar semicondutores por um agente privado. O faturamento da Ceitec era insuficiente para pagar a conta de luz — detalhou.
A coluna quis saber se algum interessado apareceu até agora e Mac Cord informou, então, que a extinção da Ceitec está paralisada por força de decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), portanto os prazos previstos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações não estão contando.
Conforme o secretário, o motivo não são irregularidades apontadas por técnicos do TCU ainda em 2020, mas uma situação que remonta à criação da Ceitec: o terreno na Lomba do Pinheiro onde a empresa foi construída não é federal nem faz parte dos ativos da companhia. Foi cedido por um agente privado à prefeitura de Porto Alegre, que agora contesta a titularidade da União.
— É um imbroglio que precisamos resolver — disse Mac Cord.