A crise atingiu os supermercados, sim, mas com impacto menor do que a média do varejo. Conforme dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a perda de vendas geral em 2016 foi de 8,7%, enquanto nos supermercados ficou em menos dramáticos 3,2%.
– A recessão foi tão profunda, que atingiu até esse segmento que vende produtos de primeira necessidade – pondera Fabio Bentes, economista da CNC.
Então, será que o fechamento de tantos supermercados da bandeira Nacional, que pertence ao grupo americano Walmart, considerado o maior varejista do mundo, pode ser explicado apenas pela crise? Olhando os dados, é difícil sustentar essa hipótese.
Ainda conforme levantamento da CNC, fecharam no Brasil 108,7 mil empresas de varejo em 2016, das quais 34,7 mil supermercados. Conforme Bentes, a proporção é compatível com o peso do segmento no comércio em geral. No Rio Grande do Sul, informa o economista, fecharam 7,7 mil lojas no ano passado, ou 7,1% do total das que encerraram atividades.
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A CNC não tem dados segmentados para supermercados por Estado. Bentes ainda lembra que esses números são "do retrovisor", ou seja, do passado, porque, segundo o economista, "2017 começou bem melhor". Ao olhar os dados do varejo gaúcho, até Bentes se surpreendeu: no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, o Rio Grande do Sul teve o maior salto entre todos os Estados em janeiro, de 4,6% em relação ao mesmo mês de 2016, e de inacreditáveis 11% em comparação com dezembro de 2016. Para dar ideia de quanto fora da curva é o dado, na média nacional ainda houve queda de 0,7% entre janeiro deste ano e dezembro do passado.
E mesmo neste cenário de reação – ou, ao menos, tentativa de –, o Walmart segue fechando lojas com bandeira Nacional no Estado que mostra melhora no volume de venda. Bentes identifica na empresa uma "estratégia ambiciosa demais".
– Aparentemente, eles esperavam que o ciclo encerrado em 2014 fosse perdurar.
Outros especialistas em varejo, que acompanham os movimentos do Walmart no Brasil, lembram que, em poucos meses, três altos executivos do grupo foram demitidos no Brasil. Diante disso, avaliam que a empresa não está apenas respondendo à crise, mas reduzindo despesas e revendo todo seu modelo de hipermercados no país.
Entre esses especialistas, o que se comenta é que a matriz do Walmart nos Estados Unidos teria dado um prazo para que a operação brasileira encontrasse o equilíbrio: até 2019. Até agora, haveria prejuízos em trimestres seguidos, intercalados por leves recuperações. Essa seria a principal missão de Flavio Cotini, que assumiu a presidência nacional no ano passado.
Caso a operação brasileira não conseguisse cumprir a meta, a empresa americana consideraria a hipótese de sair do Brasil. Oficialmente, o Walmart garante ter "compromisso de longo prazo" com o país e toca projeto de reestruturação de 130 hipermercados, orçado em R$ 1 bilhão. A data de conclusão combina com a do suposto limite para dar retorno: 2019.
Como outras redes obtiveram desempenho melhor – ou menos pior –, o diagnóstico dos analistas é de que o Walmart enfrenta crise de modelo de negócio, além da recessão brasileira. Isso inclui desde o formato das lojas até sua operação no dia a dia.
Quando adquiriu redes inteiras para entrar no Brasil e formar a rede que hoje inclui as marcas Big, Nacional, Mercadorama, Todo Dia, Hiper, BomPreço, MaxxiAtacado e Sam's Club, acabou levando unidades que já não tinham bom desempenho. Por um tempo, o alto crescimento da economia mascarou essas ineficiências, que agora ficaram expostas pela queda geral nas vendas.