A volta da ameaça de Donald Trump de cobrar tarifa de 25% de Canadá e México, como se temia, fez o dólar abrir em leve alta nesta sexta-feira (31), mas não sustentou o avanço. No meio da manhã, voltou a registrar baixa. Assim como o real – e em parte pelos mesmos motivos –, o peso mexicano perdeu 22,5% em 2024. Na quinta-feira (30), caiu mais 1,16% com a nova intimidação de Trump.
Para entender porque segue havendo ceticismo sobre a aplicação prática da medida, é bom olhar os números. Hoje, produtos de Canadá e México que vão para os Estados Unidos, via de regra, não têm imposto de importação, inclusive porque os três países têm acordo de livre-comércio (livre!). Aplicar sobre esses produtos uma tarifa de 25%, portanto, significa que os preços de venda subiriam na mesma proporção, ou seja, ficariam um quarto mais caros.
Além disso, o México direciona aos EUA ao redor de 83,1% de suas exportações, portanto todo esse volume ficaria 25% mais caro. Dá para imaginar? Dá, mas precisa de certo esforço, inclusive porque boa parte das empresas que vendem a partir do México são... americanas. Como definiu Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil em Washington, seria um tiro de canhão no pé, pressionando preços nos EUA.
A maior parte das exportações do México para os EUA é de peças e acessórios automotivos, com 8,28% do total, pouco adiante dos veículos propriamente ditos, de 8,23%. Juntos, só esses dois segmentos somam US$ 71,7 bilhões, conforme o Data Mexico, espécie de IBGE do país da tequila - outro item que americanos adoram importar.
E por falar em especialidades, há outro item da importação americana que embute corações e mentes: saem do México 90% dos abacates consumidos nos EUA, principalmente para abastecer a preparação de guacamole. Como o bolso dos brasileiros sabe, o preço do fruto subiu por redução de oferta. No mercado internacional, aumentou cerca de 14% em relação ao ano passado. No Brasil, o acumulado no ano passado foi "um pouco" maior: 174,7%, conforme o IPCA do IBGE.
Ao renovar a ameaça – o anúncio oficial ocorreria no sábado (1º) – Trump listou suas "justificativas":
— O motivo número 1 são as pessoas que entraram em nosso país de forma tão horrível e em tão grande volume. Número dois, as drogas, o fentanil e tudo o mais. Número três, os enormes subsídios que estamos dando ao Canadá e ao México na forma de déficits.