A cada declaração, do governo ou de aliados, fica mais claro. Virá aumento de imposto, dia mais, dia menos. Depois de o empresário Abilio Diniz afirmar que protestar contra a alta de tributos é "hipocrisia" e "contra o país", nesta segunda-feira o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, avançou uma casa nesse caminho ao dizer que "se for necessário, vamos aumentar, porque o importante é o equilíbrio fiscal".
Meirelles aposta na retomada, mas o processo, como demonstram suas próprias reticências, não está garantido. Apesar de vaiado até em pensamento, Diniz constata o óbvio: o Brasil precisa fechar as contas e, por ora, não há segurança de que seja possível fazê-lo pela expansão de receita obtida com crescimento. E não pode se dar ao luxo de dar novos sinais de falta de equilíbrio.
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A essa altura, há duas linhas de defesa contra o maior peso da carga tributária. A primeira, exigir alguma contrapartida na simplificação dos pagamentos, para não tornar ainda mais caro o já oneroso sistema brasileiro. A segunda, cobrar que os tributos escolhidos para arrecadar mais não sejam ainda mais distorcivos e regressivos, quer dizer, afetem mais quem tem menos.
Não se trata de conformismo. É uma reação semelhante à do assaltado frente ao inevitável: se é para perder, que seja o menos importante. Como uma reforma tributária ainda parece longe dos primeiros lugares no ranking das prioridades do governo, a garantia mínima a demandar é de que as escolhas para reforçar a receita não recaiam sobre taxas, contribuições ou impostos que já sugam escassa seiva restante de sistemas esgotados.