
A startup americana Colossal Biosciences anunciou a recriação genética de um lobo extinto, o Aenocyon dirus. Trata-se de um lobo que extinguiu-se há cerca de uns 10 mil anos atrás. Aliás, como toda a megafauna da qual fazia parte.
Através de técnicas de edição genética, a startup mostrou como resultado três filhotes. Dois machos Rômulo e Remo (fundadores míticos de Roma alimentados por uma loba), e uma fêmea Khaleesi (personagem de Game of Thrones, série onde esses lobos aparecem).
Eles partiram do DNA de um lobo cinzento, o parente mais próximo do lobo extinto. Inseriram DNA fóssil de características como pelagem clara, mandíbula robusta e maior tamanho corporal. Conseguiram um fato e tanto para tão poucas inserções de trechos de DNA. Os filhotes correspondem ao que sabemos sobre o ancestral extinto.
A notícia despertou nossa imaginação, tanto que iniciou-se um debate bioético sobre o fato e suas consequências. Eles realmente seriam a ressurreição do lobo extinto, ou um híbrido de lobo cinzento? O que farão com esses lobos se já não existe o bioma original onde viviam?
A ambição da Colossal Biosciences é recriar o mamute, o pássaro dodô e o lobo da Tasmânia. Paralelamente, eles criam lobos vermelhos para aumentar a diversidade genética, pois eles estão próximos à extinção pelo gargalo genético. Ou seja, baixa variação de genes por existirem poucos exemplares vivos.
Deixo aos biólogos a discussão sobre o que essa empresa cria e sua utilidade científica. Ou ainda, se tudo é um lance de marketing da empresa para arrecadar dinheiro.
Pessoas que geralmente não acompanham temas científicos ficaram inquietas com a notícia dos lobos recriados. Khaleesi, Rômulo e Remo mexeram no nosso sentimento de culpa pelo estrago que produzimos ao planeta. Sentimos sua vinda como uma tentativa de reparação. Destruímos, mas agora vamos consertar.
Estamos no terreno da fantasia, pois o impacto ecológico, até agora, está na promessa. Nós recebemos apenas notícias de animais sendo extintos. Que alguém nos diga que é possível reverter uma extinção, mesmo dentro de um contexto controverso como esse, cria a ilusão de uma convergência harmônica com a natureza. A realidade é bem outra.