
Camaradas felinos, sem meias palavras, nós perdemos a guerra. A nossa liberdade evaporou. Perdemos o ir e vir. Vivemos atrás de janelas gradeadas de nylon.
Durante séculos, coabitamos com os humanos em liberdade, tínhamos a cidade inteira para andar. Agora somos confinados em apartamentos pequenos, às vezes com outros gatos, que tampouco escolhemos.
Sabe o que é não ir com a cara de um gato, e ser condenado a conviver na mesma casa sem poder sair? Os humanos, quando não se comportam, são colocados a viver junto a pessoas que eles não escolheriam. Acham ruim, abominam a dita cadeia, mas fazem isso conosco. Nos misturam sem dó.
Não para por aí, muitas vezes nos colocam junto com cães. Os cachorros e os humanos se merecem, ambos são barulhentos e fedorentos. O silêncio e a paz não fazem parte da vida dessas duas espécies. Até iria reclamar que os humanos não nos lambem, mas pensando bem, eles não fazem isso nem com seus filhos. Talvez por isso o mau cheiro humano mal disfarçado por produtos químicos.
O desastre aconteceu quando perdemos o direito de eleição. No passado nós escolhíamos nossos humanos, agora são eles que nos escolhem. Nem preciso lembrar como era melhor buscar uma casa, adotar um humano confiável e testar se a comida era boa. Podíamos inclusive passar temporadas em outras casas, só para variar de ares e comida e companhia.
Os poucos de nós que ainda estão livres, são incessantemente perseguidos e castrados. Aliás, ninguém mais quer por ninhadas nesse mundo desalmagatizado, mas queríamos poder escolher.
Tenho até vergonha de falar sobre a suprema humilhação, os humanos escolhem até onde vamos fazer as necessidades. Além disso, não confiam em nós. Enterramos cuidadosamente o cocô, somos bons nisso. Os humanos nunca ficam satisfeitos, desenterram e enterram à sua maneira.
Vivendo em espaços exíguos, sem gatividade possível, engordamos e adoecemos. Basta, é hora de ações mais enérgicas. Gatos do mundo, unamo-nos, só temos a perder as ridículas coleirinhas, com o nome dos nossos tutores, que nos aprisionam. Que os humanos tremam quando souberem da revolta dos gatos.
PS.: Interceptei este manifesto felino. Não deixei minhas gatas lerem.