
PRIMEIRA-FEIRA - Infelizmente, a primeira-feira nos abandonou. Não é tanto que ela fosse odiada, mas o apego excessivo que temos ao Sábado e ao Domingo a magoava. Praguejamos demais contra esse dia, tanto que ela se foi. A humanidade perde um dia a cada semana, e nós perdemos um oitavo da nossa vida.
SEGUNDA-FEIRA - Segunda feira é um dia difícil. Afinal, ela arcou com o peso da extinta primeira-feira. Por sorte ela é mais cascuda e segura as pontas. Sua inspiração é Atlas, o Titã que segura o mundo nos ombros. O que a salva é o sadismo. Ela gosta de nos esbofetear com a realidade e não está nem aí para nosso mau-humor.
TERÇA-FEIRA - Terça-feira lembra um corredor. Apenas passamos por ela. Nem a olhamos nos olhos, estamos demasiado ocupados com as atribulações do dia anterior que moldaram a agenda da semana. Ela aguenta as ressacas das promessas de “nova vida”, como dietas, academias e tudo mais que teriam começado na segunda.
QUARTA-FEIRA - Quarta-feira, com tudo mais organizadas, temos a sensação que finalmente engrenamos. A semana já não nos parece infinita. Parece haver vida entre um dia e outro. À noite ela sorri e sente-se a Rainha do Meio.
QUINTA-FEIRA - Quinta feira pode ser resumida pelo seu espírito de “quase lá”. É o dia em que a esperança abre os olhos. O trabalho rende, afinal, amanhã é sexta. À noite, seu ânimo sente um vento de sábado.
SEXTA-FEIRA - A marca da sexta chama-se procrastinação. Empurrar as tarefas para a próxima semana. Estamos cansados e ela nos entende, tanto que passa a mão por cima da nossa displicência e ajuda na contagem regressiva para a chegada da noite.
SÁBADO - Sábado sente saudades de quando era híbrido, todos acordavam cedo, e o fim de semana começava no seu meio dia. Pensa que a humanidade está ficando mole. Ou seria rancor pela palavra “sextou”? Mas é só passar as 12h que ele se abre e vive seu esplendor.
DOMINGO - Dia oficial da preguiça, da alegria de encontrar a família e de ver a grama crescer. Embora ele seja uma festa, esconde uma pontada de melancolia que chega ao redor do pôr do sol. Nesta hora, cada um sofre em silêncio o peso do tempo. Algo em nós morre a cada final de domingo.