Apesar de sua reputação de ladra, a pega desconfia de objetos desconhecidos, uma fobia que poderia ser explorada por outras aves para proteger seus ovos desta predadora, de acordo com um estudo.
Não é raro encontrar materiais de origem humana nos ninhos de muitas aves. Os papagaios decoram os seus com plástico branco, enquanto o periquito-australiano utiliza objetos coloridos.
As razões para estas "ornamentações" não parecem claras. Por outro lado, elas não são isentas de perigo: o ninho fica mais visível, o isolamento é pior, há risco de ferimentos ou de os filhotes bicarem estes adornos...
Mas a verdade é que esses materiais de construção de ninhos são fáceis de encontrar, principalmente em ambientes urbanos.
A decoração do ninho também pode demonstrar a capacidade do construtor e, assim, aumentar a probabilidade de reprodução. Ou pode ser um sinal de propriedade e alto status social direcionado a intrusos da mesma espécie.
- Neofobia -
Em um estudo publicado nesta quarta-feira (16) na Royal Society Open Science, dois biólogos noruegueses apresentaram outra hipótese.
Estas decorações poderiam desencorajar predadores como pegas e corvos, que desconfiam de novidades e objetos desconhecidos.
Esta "neofobia" é considerada uma resposta adaptativa que permite reduzir os riscos diante de perigos em potencial, sobretudo em animais "inovadores", que possuem capacidade para encontrar soluções originais pra obter recursos.
Entre as aves, essa aversão é particularmente pronunciada em corvídeos, como pegas, gaios, corvos e gralhas.
Para testar sua hipótese, os pesquisadores colocaram três tipos de ninhos artificiais com ovos de codorna no chão de um aterro sanitário frequentado por corvos e em jardins habitados por pegas.
Os ninhos de controle continham apenas ovos, enquanto no segundo tipo foi adicionada uma colher de metal.
O terceiro continha penas brancas de galinha, um dispositivo destinado a testar outra hipótese: certas aves colocam penas grandes ao redor do ninho para assustar os predadores, fazendo-os acreditar que um de sua espécie havia sido atacado ali.
As pegas levaram uma média de 96 horas para roubar os ovos do ninho de controle, 149 horas antes de pegar os ovos daquele com a colher e 152 horas antes de atacar o ninho com penas.
Os corvos procederam na mesma ordem, mas foram mais aventureiros, esperando respectivamente 28, 34 e 43 horas, provavelmente porque já estavam acostumados a conviver com objetos brilhantes em aterros sanitários.
Outro fator determinante foi a competição, visto que o local era ocupado por "centenas de corvos, provavelmente todos jovens", explica à AFP Magne Husby, biólogo da Universidade de Levanger e coautor do estudo.
Se eles hesitassem em roubar um ovo, "era muito provável que outro corvo o levasse".
Os experimentos com as pegas foram realizados em seus próprios territórios e "diante da hesitação causada pelas penas ou pela colher, elas não tinham pressa em pegar os ovos", acrescenta Husby.
Uma hesitação que, na natureza, permite que o dono do ninho ganhe tempo para defendê-lo.
* AFP