
Era manhã de quarta-feira (26), aniversário de Porto Alegre, fazia sol e uma brisa suave refrescava um belíssimo dia de outono na cidade. Estávamos a poucos minutos de iniciar o Timeline, programa que eu, Luciano Potter e Paulo Germano conduzimos diariamente na Rádio Gaúcha. Pois o Potter, âncora do programa, chamou a mim e ao PG pra contar uma “coisa boa” que havia se passado no dia anterior. Curiosa, tirei o fone de ouvido para prestar atenção no causo. Ele começou a contar.
Em uma onda de imaginação, temperada com amor e a inocência de uma criança, pai e filho desbravaram as profundezas do oceano enquanto chegavam ao local onde o carro estava estacionado
Disse que o filho mais velho, Federico, há alguns dias lhe perguntava se havia sol lá fora, quando ambos saíam da natação. O Potter e o Federico experimentam o esporte aquático em horário concomitante, o que permite que saiam juntos da piscina e, em seguida, voltem juntos para casa. Neste caminho, naquele dia, o menino repetiu a pergunta:
— Papai hoje tem sol?
— Não, filho, hoje não tem.
Fefe arregalou os olhos e encheu o peito, sorrindo:
— Que legal, papai! Vamos então imaginar que estamos no fundo do mar e somos parte disso. Vamos nadando e olhando todos os seres que moram embaixo da água. Vai ser demais!
E assim foram. Em uma onda de imaginação, temperada com amor e a inocência de uma criança, pai e filho desbravaram as profundezas do oceano enquanto chegavam ao local onde o carro estava estacionado.
— Foi mágico! — nos disse o Potter, com olhos que brilhavam como se houvesse descoberto um tesouro nas profundezas do mar.
E, de fato, era um tesouro. Tesouro de ler a felicidade não como um lugar acessível apenas depois de bater índices cobrados pela sociedade. Tesouro de compreender como são sublimes os momentos de convivência com aqueles que amamos. E que, no fundo, aliás, são os que realmente importam.
Decidi escrever essa história depois de uma semana dura, em que vimos um homem interromper a vida do próprio filho, e nos perguntamos — eu, ao menos — como é possível que alguém cometa tamanha crueldade com um ser vulnerável, indefeso e que deposita afeto e confiança nele. E, ainda bem, para contrapor esse tipo de barbaridade e para renovar minha esperança, ouvi a história do Potter.
Há, sim, pais que pegam a mão dos seus filhos e os conduzem para uma infância de amor e de imaginação.
Feliz aniversário, Luciano. Que a vida te presenteie com saúde e amor para que possas continuar a nadar.