
Depois de 60 dias sendo cobrado pela Infraero para pagar R$ 36 mil — R$ 18 mil mensais — pelo uso de um hangar no aeroporto, o aeroclube de Canela recebeu uma notificação para deixar o local. O documento foi encaminhado na sexta-feira (4).
Se, dentro de 30 dias, a escola de aviação — que tem 75 anos de vida e 32 de uso do hangar — não procurar a administradora do aeroporto para negociar, um processo na Justiça será aberto pedindo a reintegração de posse. O diretor comercial da Infraero esclarece que o objetivo não é retirar a escola do aeroporto.
Porém, Tiago Faierstein informa que o aeroclube não pode ficar gratuitamente no local. Outros concessionários do aeroporto já realizaram a atualização de contrato com a Infraero, como Helisul Táxi Aéreo, Revoar Táxi Aéreo, Tri Aviation (PAA).
Além disso, o diretor comenta que a escola não tinha um contrato ativo antes de a Infraero assumir o aeroporto. Também relata que houve uma tentativa de buscar uma negociação com o aeroclube, o que não teria sido aceito.
— Respeitamos os contratos ativos. O operador anterior (do aeroporto) era a prefeitura. Se tivesse um contrato anterior, ele seria respeitado — garante Faierstein.
A Infraero diz ter conhecimento de que o aeroclube aluga espaço do hangar, o que poderia viabilizar os pagamentos exigidos. Faierstein garante que está aberto a receber contrapropostas.
— A gente entende que o aeroclube movimenta o aeroporto e a cidade, mas não dá para não seguir as regras — comenta.
Contraponto
O presidente do aeroclube, Marcelo Sulzbac, reconhece que não havia um contrato em vigor. Mas reclama que, em 2023, quando a prefeitura repassou o aeroporto para o Estado, a atualização de contrato travou.
Depois, com a enchente, atrasaram as negociações com a prefeitura de Canela e governo do Estado para atualização do vínculo da escola. O aeroclube é uma instituição sem fins lucrativos e é formadora de pilotos.
— Temos comprovações de que estávamos regulares e tentávamos a renovação. Porém, houve um jogo de empurra entre a prefeitura e o Estado. Tentamos todas as formas de negociação — relata o presidente do aeroclube.
Sulzbac reclama que a Infraero quer cobrar pelo uso do hangar, que foi construído pelo próprio aeroclube. Mesmo assim, ele garante que, desde que as cobranças passaram a ser feitas, já foram apresentadas duas contrapropostas.
Foi ofertado um valor de R$ 3 mil e, após, R$ 5 mil mensais. Porém, a Infraero estaria intransigente. Ele reclama que a Infraero já retirou outros aeroclubes de aeroportos, no Amazonas e em Mossoró, no Rio Grande do Norte.
— Isso vai gerar falta de pilotos. Se o órgão fecha escolas de pilotos, isso, no futuro, vai gerar uma crise aérea — projeta Sulzbac.
Caso se confirme o despejo, o presidente informa que as três aeronaves do aeroclube serão vendidas e as portas serão fechadas. Ele admite que o aeroclube arrenda espaço no hangar. É com esse dinheiro, segundo ele, que as atividades se mantêm.
— A renda do hangar é usada para a manutenção da instituição, folha de pagamento e investimento dos aviões — esclarece Sulzbac.