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Num mundo de hackers e criptomoedas, de Pix e de venda de milhares de ações a um simples clique do mouse, soa curioso o uso de dinheiro vivo para pagar qualquer coisa. Quando em grandes quantias, chama a atenção, inclusive, das autoridades.
Esta semana, a Polícia Federal comprovou mais uma vez que as malas de dinheiro continuam a cruzar a fronteira gaúcha com o Uruguai. Foram presas 14 pessoas entre Aceguá e Bagé, na Campanha. As investigações apontam que os comerciantes usavam duas formas de lavar dinheiro: dólar-cabo e cash courier, que é o carregamento de dinheiro em espécie. Eles teriam movimentado a espantosa quantia de R$ 38 milhões em cinco anos.
Mas e por que, em tempos cibernéticos, um criminoso resolve usar sacolas e mais sacolas de dinheiro vivo? Para evitar o rastreio de suas contas.
Operações bancárias, sejam elas dentro ou fora do país, deixam rastros. Mesmo quando se usa “laranjas” (intermediários que assumem a posse do valor, no lugar dos verdadeiros donos). É por isso que os lavadores optam por cruzar a fronteira com cédulas ou pedras preciosas, uma prática que tem milhares de anos (sim, você leu certo, milhares).
Em 1997, eu e os repórteres Carlos Wagner e Nilson Mariano documentamos essas práticas, mostrando como o Uruguai tinha se transformado em paraíso fiscal. Doleiros cruzavam de carro com coletes cheios de dinheiro por baixo das roupas, nos mais de mil quilômetros de fronteira dos uruguaios com o Rio Grande do Sul. Pedras preciosas eram costuradas na barra das calças. E por aí se vão os truques.
Mostramos também como o Uruguai se transformou em exportador de ouro, embora sua única mina não produzisse nem 10% do valor de exportações declarado. Na realidade, eram brasileiros que introduziam o mineral de forma contrabandeada naquele país e depois o legalizavam em bancos, mediante documentos forjados.
Outra forma era fazer falsos contratos de importação e exportação, sem mandar uma mercadoria sequer. A empresa existe apenas para lavar os lucros.
De lá para cá muita coisa mudou e não é tão simples disfarçar o contrabando. Acordos internacionais de cooperação fazem com que a Interpol esteja sempre de olho em enriquecimentos súbitos, grandes aquisições de bens e propriedades. Mas as velhas malas de dinheiro continuam a cruzar a fronteira, como comprovou a operação da PF esta semana.