
Em tempos de julgamentos sumários nas redes sociais, é didático observar a reviravolta no caso que envolve Daniel Alves. Para você que acordou tarde e ainda não sabe do bafafá do dia, o famoso jogador brasileiro acaba de ser absolvido da acusação de estuprar uma modelo dentro de uma boate, em acórdão do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha (Espanha). O detalhe é que o atleta já cumpriu a maior parte da pena de quatro anos e meio de prisão, inclusive ficou um ano atrás das grades.
É um plot twist carpado, um salto acrobático em relação à sentença anterior, da primeira instância. Alves tinha sido condenado, mesmo após jurar que fez sexo consentido com a mulher. É verdade que o jogador não colaborou muito com sua própria defesa. Num primeiro momento, chegou a negar qualquer relação e dizer que não conhecia a mulher que o acusa de estupro. Confrontado com imagens que mostravam ele e a moça ingressando num recinto privé de uma boate, afirmou que teve relações sexuais sem penetração. Por fim, em outro depoimento, reconheceu que houve penetração, e que tinha mentido antes para tentar preservar o casamento.
A sequência de contradições pesou para que ele ficasse preso por um ano e que a primeira sentença fosse condenatória. A mulher que teve relações com ele chorou e garantiu que o sexo não foi consentido, mostrando inclusive alguns machucados.
Pois as instâncias superiores do Judiciário catalão entenderam, agora, que não existem provas de que houve abuso sexual neste caso. Selecionamos um trecho do acórdão que resume a opinião dos magistrados de alto escalão: "...os fatos registrados pelas câmeras de segurança da casa noturna não coincidem com a versão da denunciante...a mulher acessou a "suíte" voluntariamente. O julgamento deixa claro que seu relato não condiz com a realidade objetivamente observada".
Esta coluna não é uma comemoração do resultado, é uma reflexão. Não temos como dizer o que aconteceu no escuro da boate, se foi consentido o sexo ou não. Se Alves foi além do permitido ou não. O que podemos abordar é a questão dos riscos representados pelos tribunais das redes sociais. "Bandido" é expressão suave dentre as tantas com que Daniel Alves foi brindado pelos implacáveis justiceiros (as) de internet.
E não só na blogosfera. A própria Justiça, num primeiro momento, manteve Alves trancafiado. Até hoje está proibido de deixar a Espanha e tem de se apresentar semanalmente a um juiz.
Como fica a situação do jogador agora? Está livre, mas deixou 1 milhão de euros na fiança (cerca de R$ 6,1 milhões) e teve a imagem arrasada. O dinheiro lhe será devolvido? Terá futuro como jogador? Só o tempo responderá. É por isso, leitor, que os profissionais da mídia são cautelosos e usam muito a palavra "suspeito" ao invés de criminoso. Sobretudo quando não há flagrante e o suposto delito é entre quatro paredes.