A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

As hipóteses sobre a ocorrência da doença de Newcastle no Rio Grande do Sul trazem recados sobre a vulnerabilidade da produção agropecuária frente às mudanças climáticas. O caso recente identificado não se trata de circulação virial, mas de uma falha de biosseguridade, quando se tem um ambiente de produção já debilitado.
O surto (considerado caso isolado) foi registrado em uma granja em Anta Gorda, no Vale do Taquari, região que tem sido epicentro dos eventos climáticos desde o ano passado. O registro ocorre 18 anos após a última identificação da doença no Estado e coincide com a vulnerabilidade das áreas depois das enchentes de abril e maio.
Entre os especialistas, o entendimento é de que se criou “uma tempestade perfeita” para que a doença se espalhasse. O vírus identificado em Anta Gorda foi encontrado em pombos, muito provavelmente devido a danos no aviário da propriedade. Uma chuva de granizo danificou a infraestrutura onde as aves ficavam abrigadas, deixando-as expostas ao frio e a animais externos. Muitos pássaros, por exemplo, perderam suas árvores de repouso depois da inundação.
— Os aviários da região que foram afetados acabam se tornando frágeis, então pode ter havido uma falha na biosseguridade. Pelos procedimentos definidos, um pombo não pode estar misturado com as aves, mas como o aviário foi danificado, teve telhado caído, umidade, há essa probabilidade de relação — diz o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos.
Biosseguridade é a utilização de dispositivos de segurança para evitar entrada de pássaros, de animais de grande porte e mesmo de pessoas de fora da produção. Cercas, telas e cuidados com a água estão entre os aparatos que garantem essa proteção. Os procedimentos de biosseguridade, aliás, são os mecanismos que têm mantido outras doenças como a gripe aviária longe dos plantéis de produção no Estado.