Foi uma Páscoa daquelas. Épica, diriam alguns. Afinal, teve feriado prolongado, família reunida, festa de aniversário, banda tocando animada, gritos de “toca Raul”, vinho da colônia à vontade, chope para os outros, rolou “nóis vai descer pra BC” e galera dançando até o chão, abraços, sorrisos, alegria. Depois, como toda festa que reúne parentes, teve conversas mais acirradas, discussão do cardápio adequado, tentando contemplar vegetarianos e carnívoros, uma certa ressaca, recuperação com chá de boldo e a geladeira cheia de sobras. Fica a lembrança do encontro e as fotos, porque alguém sempre registra tudo e coloca no grupo de whats da família.
Teve também Hugo Calderano vencendo a Copa do Mundo de tênis de mesa, telão em frente à casa para assistir ao Gre-nal que terminou empatado e vacinação contra a gripe para os mais precavidos. Por aqui, o Juventude empatou e o Caxias perdeu.
Foi um feriado também marcado pela fé e pela violência. O mesmo sábado que reuniu mais de mil pessoas nos pavilhões da Festa da Uva para a encenação da Via Sacra, registrou seis feminicídios no Estado. E para tornar tudo ainda mais cruel, todos os suspeitos pelos assassinatos são ex-companheiros ou parceiros atuais das vítimas, e os crimes aconteceram em contextos de violência doméstica. Teve ainda violência no trânsito, filas quilométricas em direção ao litoral e congestionamento. No Rio de Janeiro ocorreu a prisão homens que estavam planejando matar uma pessoa em situação de rua, por meio de uma plataforma digital e que pretendiam transmitir ao vivo o assassinato. Teve também a decisão do STF sobre a “pejotização”, o que coloca em risco os direitos dos trabalhadores. E, ainda, denúncia de trabalho análogo à escravidão, em Minas Gerais.
Tivemos também a chegada do frio, das alergias e dos primeiros resfriados. O coelho chegou mais magro e na internet o convite para fazer um blecaute das redes, chamando para ficar 24h sem acessá-las. Talvez tão necessário quanto boicotar, seja urgente a regulamentação do uso das redes.
Por fim, o Papa Francisco morreu. Ele que foi um líder espiritual para milhões, sempre reforçou a mensagem de que o amor deve vir antes de qualquer julgamento.
Fechamos mais um feriado cheio de contradições e paradoxos. No rescaldo, a constatação de que de um lado está a alegria de se estar entre pessoas que amamos, do outro, de estar entre pessoas conhecidas que se odeiam. Talvez todos sejamos muito parecidos em muitos aspectos, e o que nos diferencia é a capacidade de suportar o diferente, mas também a integridade ética de perceber a necessidade da volta de valores como as que o Papa Francisco defendia. Afinal, nossa fé não vale de nada se ela não fizer de nós pessoas melhores.
E nesse breve resgate de fatos que nos ocorreram nos últimos dias, a reflexão de que todo excesso guarda em si um princípio de destruição.