A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Os efeitos da estiagem que castiga o Rio Grande do Sul desde o fim do ano passado a cada dia se mostram mais severos no campo. Além do estrago já irreversível no milho, a sequência de dias extremamente quentes e chuva irregular na semana agravou as dificuldades no desenvolvimento da soja. Segundo a Emater, em algumas lavouras, os agricultores já relatam morte das plantas ainda na fase inicial do cultivo.
A situação crítica está se expandindo para praticamente todas as regiões, segundo o diretor técnico da Emater-RS, Alencar Rugeri.
— Claro que dentro dessa generalização há uma variação das perdas. Mas o impacto é bastante grande. Estamos tentando buscar uma forma de mensurar esse panorama – diz.
O quadro geral é de que as plantações da principal cultura do Estado apresentam baixa estatura e quebra significativa de potencial produtivo. Por causa do ritmo lento no desenvolvimento das plantas e do atraso na semeadura, 63% das lavouras ainda estão em fase vegetativa, quando a média para o período é de 45%.
Em monitoramento realizado por equipes da Agricultura, constatou-se lavouras de soja com perdas acima de 80%, com municípios decretando o término precoce da safra do grão e também do milho.
A situação adversa se agrava pela combinação de dois fatores, segundo Rugeri. Além do tempo seco, as altas temperaturas também impactam diretamente no desenvolvimento das culturas.
E os prognósticos para os próximos dias não são animadores. Segundo o Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), o calor seguirá intenso no Estado, com marcas próximas de 40ºC na maior parte das regiões. A expectativa é pelas pancadas de chuva de verão, embora o volume e a distribuição tendam a ser bastante irregulares.
Também devido ao tempo seco, o plantio da soja ainda não foi concluído e está em cerca de 97% da área total estimada no Estado. Essa semana, a Secretaria da Agricultura encaminhou um ofício ao Ministério da Agricultura solicitando que o período de semeadura do grão seja ampliado até o final de fevereiro.
Em função da estiagem e das perdas contabilizadas até agora, é possível que haja necessidade de replantio em algumas áreas para além da data-limite de semeadura, que encerra no próximo dia 31 de janeiro. Até o fechamento deste texto, a pasta não havia ainda recebido retorno do Ministério.
Os efeitos da falta de chuva no grão ainda vão além, já afetando também a venda futura da soja, como já noticiou a coluna. Apenas 17% da produção estimada havia sido comercializada de forma antecipada no Estado até o começo deste mês, segundo levantamento da Safras & Mercado. O número é menor que a média dos últimos anos e também do ano passado, que chegou a ser fora da curva pela boa safra e pelos bons preços.