
Você sofre de amnésia digital?
Se você somente usa o Waze para se deslocar e não guarda mais nenhuma rua ou caminho.
Se você não suporta qualquer lapso e já recorre ao Google.
Se você não conserva nomes de filmes, atores, atrizes e diretores, muito menos de canções e seus artistas, e exige várias dicas, como se estivesse jogando Imagem&Ação.
Se você perde objetos com frequência pela casa, nunca determinando ao certo onde os colocou.
Se você não se recorda direito de shows aos quais assistiu porque passou o espetáculo inteiro filmando.
Se você não sabe mais nenhum telefone de cabeça, só o seu.
Se você precisa conferir as fotos para recapitular onde estava nas férias.
Se você não lembra como se chama a pessoa para quem acabou de se apresentar, pois salvou o contato no celular e não se prestou a visualizar na mente.
Se você não tem mais noção da passagem dos anos, acha que aquilo que ocorreu há três anos foi no ano passado.
A terceirização da memória para recursos tecnológicos vem enfraquecendo o nosso raciocínio
Se você não emprega a sua caligrafia, apenas digita. Sem o amparo do corretor ortográfico, é capaz de errar a grafia das palavras mais fáceis.
Se você não dispõe mais de paciência para conversar sem pesquisar nos dispositivos eletrônicos.
Se você depende do Facebook ou Instagram para cumprimentar aniversariantes.
Se você não consegue mais ler um livro.
Se toda a sua existência mora no celular, dados bancários e pessoais, e não há como pedir ajuda ou socorro na ausência dele.
Então, você é vítima da exposição prolongada das telas, a um passo da demência virtual.
A terceirização da memória para recursos tecnológicos vem enfraquecendo o nosso raciocínio. Os riscos são graves: redução da neuroplasticidade dos cérebros em desenvolvimento e deterioração da saúde mental e das funções cognitivas.
Padecemos da preguiça de pensar por nossa conta e juízo. É uma anti-Renascença, período de trevas do intelecto.
O que deveria nos auxiliar está ocupando o nosso lugar.
Com a transferência da memória, a nossa vida se torna também mais acelerada. Solucionamos rapidamente os incômodos e não enfrentamos o tempo das dúvidas. Agimos no automático, confundindo conhecimento (processo íntimo) com informação (processo genérico).
Não desfrutamos da plenitude dos acontecimentos. As experiências não ficam na nossa posteridade interior, pois não nos esforçamos para fixar as lembranças. Não há trabalho e vínculo. Fatos grandes ou pequenos têm o mesmo peso e valor, sem proporcionalidade.
Não armazenamos descobertas e lições. Não mais nos comovemos, quando lembrar é se emocionar, é dar cor, cheiro e sensações ao passado. Nossa erudição e sapiência agora partem de fora, não de dentro.
Assim os relacionamentos estão cada vez mais descartáveis, porque sentimos cada vez menos saudade — a saudade se encontra à beira da extinção.
Se você vive no celular, você não vive o outro, não olha o outro, não registra as características do outro. Você não tem memória, portanto não tem saudade, portanto não vai amar ninguém.