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As famílias gaúchas esperavam que o ano letivo começasse segunda-feira (10), mas não aconteceu. A suspensão pegou de surpresa todo mundo que havia organizado o fim de suas férias.
Quantos pais que teriam que trabalhar ficaram sem saber o que fazer com os filhos em casa? Certamente passaram um perrengue procurando quem cuidasse da prole de última hora. Vão quebrar ainda mais a cabeça e apertar o coração, porque a liberação só deve ocorrer daqui a sete dias.
Muitos estudantes, desavisados, bateram com a cara na porta.
É um contingente imenso sofrendo com o suspense: 700 mil matriculados parados.
A motivação é a onda de calor que assola o Estado, com temperaturas acima de 40 graus. A decisão cumpre uma liminar da Justiça que adiou em uma semana o início das aulas nas escolas estaduais.
O Tribunal de Justiça (TJ) atendeu à solicitação do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers), que reclamou da insalubridade no pico do verão para o retorno do ano letivo, agendado anteriormente para segunda-feira (10).
As aulas começarão agora no dia 17 de fevereiro. O governo tenta garantir a retomada ainda nesta semana.
O debate climático é importante, haja vista a ameaça à integridade física. Só que a pauta não merecia ter sido judicializada.
Estamos acostumados ao cancelamento parcial devido a emergências pontuais, calamidades, enchentes ou temporais. Talvez o calor configure um novo paradigma de justiça ambiental a ser estudado.
Parar as aulas pelo sol inclemente é uma ingrata novidade científica no nosso imaginário, por isso traz apreensão e insegurança na comunidade escolar, sobretudo com variações ambientais frequentes. Tanto que uma frente fria já se aproxima na quinta-feira.
A medida intempestiva, sem preparação e envolvimento de todas as partes interessadas, é que cria paranoia e incertezas para o planejamento do lar, para a composição de horários de qualquer família.
O que os pais supõem: teremos que consultar a meteorologia para descobrir se o aluno irá para a escola ou não? Previsão de frio em excesso, ou de calor em excesso, já será suficiente para o declínio das atividades? Qual a diferença com o ano passado? Com o ano retrasado?
Não estão errados. Não duvido que seja uma tendência do apocalipse ecológico. Existe a consolidação do inferno em fevereiro. Ele já é tradição.
Uma questão é imprescindível na reflexão: quem disse que as habitações dos alunos não são mais quentes do que as escolas, com menos ventilação?
Quase metade dos nossos alunos vive em situação de vulnerabilidade.
Quantos dependem da merenda como sua principal fonte de alimentação?
O esforço precisa ser direcionado para ampliar as salas refrigeradas, promovendo a neutralidade em condições adversas. Das 2.320 escolas estaduais, 633 têm ar-condicionado. Cerca de uma a cada quatro escolas encontra-se devidamente aparelhada. O que ainda é pouco para o que enfrentaremos mais adiante.
Se antes havia a greve dos professores, agora existe um marco inédito de indeterminação: a greve do tempo. A greve do sol.
Não dá para interromper a escola por tudo. Não pode ser a primeira alternativa. O que é fundamental é equipar as instituições para as oscilações extremas, seguindo o movimento mundial.