Ela ouve todo mundo, não importa o partido ou o time. É querida e cheia de opiniões, o que pode nos fazer discordar e até xingar, ou não achar tão querida assim. Ela informa e é companhia. Muitas vezes nos arrepia e emociona, principalmente no futebol. Grita gol como ninguém. Nos deixa nervosos, ansiosos, pedindo para o árbitro apitar logo o final da partida.
Ela não fica fora de nada. Se tem um acontecimento mundial, ela vai. Eleições americanas, argentinas, Olimpíada, Copa, Libertadores, Gauchão, Campeonato Brasileiro, Oscar. É arroz de festa. Se tem gente na praia, ela vai também. Se tem votação, ela vai para a Câmara, a Assembleia ou para o Congresso. Ela está em todas. Se chove além da conta, ela vai ouvir as pessoas que perderam tudo na enchente, mesmo que seja dolorido de escutar. Fala até sobre as guerras.
Aos 98 anos, que completa neste sábado, é uma guria, sempre procurando as novidades, mas sem perder sua essência e o porquê de existir. Tem parceiros comerciais incríveis, que acreditam no jornalismo profissional, e um público que a acompanha até de muito longe. Ela ajuda a matar a saudade do pago para quem se espraiou pelo mundo.
Estou falando da Gaúcha, que começou as atividades em 1927. Era musical, com programas de auditório que faziam muito sucesso. Com o tempo foi readequando a programação e se transformou em uma rádio de jornalismo geral e esportivo. Grandes nomes da comunicação brasileira passaram por ela e ainda passam. Muitos se formam, expostos aos ouvidos mais atentos de um público exigente. É como trabalhar em uma vitrine, sendo avaliado em tempo real.
Aos 98 anos, que completa neste sábado, é uma guria, sempre procurando as novidades, mas sem perder sua essência e o porquê de existir.
Os ouvintes também sempre têm uma história sobre a relação com a Gaúcha. Normalmente é hábito que passa, quase como uma herança, de pai para filha, de mãe para filho, de avós para netos. Muitos começam no futebol. Outros migram para a Gaúcha conforme vão se tornando adultos, buscando informação. Ela é companhia no mate e no trabalho. Está no carro e em casa. É fácil de ser acompanhada enquanto fazemos outras funções.
No meu caso, o começo foi indo para a escola no carro do meu pai, ouvinte número 1 de quase todos os horários. Naquela época eu não gostava. Era cedo, não tinha música, algo que adolescentes adoram, eu não entendia muito das notícias. Com o tempo, fui me apegando e me apaixonando. Quando comecei o estágio trabalhando aqui, em 2009, me encantava ao ouvir pessoalmente as vozes que só escutava no rádio. Reconhecia os locutores que nunca tinha visto antes apenas por seus timbres ecoando nos corredores. A Gaúcha é magia que só rádio tem. Parabéns a quem faz parte dessa história, que todos os dias conta mais histórias, rumo ao centenário.