
Já faz quase 20 anos que moro em Porto Alegre mas, bem antes disso, minhas primeiras memórias de vindas à Capital passam pelo Centro da cidade. Praça da Alfândega, em época de Feira do Livro, Casa de Cultura Mario Quintana e uma passada no Mercado Público. Gostava também do antigo Hipo Fábricas, onde passeava com minha mãe de loja em loja. Descíamos do ônibus ao lado da Ughini e andávamos pela Voluntários até o coração do Centro. Às vezes lanchava um cachorro-quente que ficava na Dr. Flores, uma delícia. Tudo isso para dizer que sou uma entusiasta do Centro de Porto Alegre. Gosto de andar, de olhar, de apreciar. Por isso fico também chateada com o que considero um abandono de uma área tão bonita da cidade.
Alguns anos atrás a principal questão era a insegurança, os inferninhos, as brigas de fim de madrugada. Hoje considero que há mais pontos a serem melhorados. A segurança não deixou de ser problema, mas outros se somaram.
Andando pelas ruas dias desses, olhei com atenção para alguns pontos. O asfalto por onde passam os ônibus parece mais de um rally. As obras do quadrilátero são intermináveis. A calçada nova ficou muito feia. Parece mais uma colcha de retalhos. Estava quente, então sentei um pouco em uma praça. Logo uma comerciante da região me alertou para o perigo de estar ali me advertindo para cuidar dos meus pertences. Os pichadores chegam à cobertura dos prédios e suas marcas estão por toda parte. Na frente do Mercado foi feito um chafariz, que depois de danificado não voltou mais a funcionar e virou depósito de bituca de cigarro.
Os lojistas resistem a tudo isso, além de terem seus comércios invadidos pela água e ficarem sem os passageiros do trem por longos meses. Os moradores vão driblando os problemas. Pensando no lado bom, vamos a não muitas quadras além. Redescobrimos a cidade a partir da Orla e do Embarcadero. Que oásis ganhamos nesses dois locais, mas que o Centro não conseguiu acompanhar.
Essa região precisa de vida, de cores, de ocupação dos gaúchos. Precisa de verba e atenção. Precisa que os planos andem.
A passarela desconstruída na enchente é um capítulo à parte, acabando com o que restava da primeira impressão de quem entra na cidade. Pela metade, com uma elevada que foi muito útil naquele período, agora é feiura pura. Vai custar caro, mas precisa ser refeita ou remodelada.
Porto Alegre precisará olhar para fora. Para os muros verdes do México, que além de esverdear o cinza do cimento com plantas, ainda diminui a temperatura no calorão. Para o Canadá, que tem ciclovias em meio ao trânsito de veículos e funciona, para citar somente dois exemplos. O Centro precisa de um empurrão para voltar a brilhar.