A trend “Como posso ser triste se…” tomou conta do Instagram nesses últimos dias, quase como uma retrospectiva de 2024, com cada usuário mostrando seus momentos mais bonitos. As pessoas compartilham fotos de viagens, filhos, casa, carro, eventos. Tudo colocado como motivo para não ser triste. Como se não fosse possível ser triste se temos coisas legais para postar.
As redes sociais se tornaram vitrines cuidadosamente pensadas, em que compartilhamos os melhores momentos das nossas vidas. O feed pensado em paleta de cores, formatos, assuntos. Tudo arrumadinho, lindo, maquiado. Nenhum problema nisso, mas são recortes.
Dificilmente você tem o peso ou a barriga que gostaria de exibir, ou realizou a viagem às Maldivas que a blogueira fez. É possível que sua casa estivesse uma bagunça e que você tirou a foto apenas da mesa posta do sushi, ignorando o sofá cheio de roupa para dobrar. Ninguém é como a internet nos faz pensar.
O que me fez problematizar essa trend é a ânsia por tudo lindo e perfeito, que não existe, mas perseguimos o tempo todo, nos comparando, precisando estar felizes, mesmo que não estejamos. Há tristeza mesmo tudo parecendo um comercial de margarina. A simplificação, ou até a banalização dos sentimentos, está nos fazendo perder o rumo como sociedade. O que priorizamos, afinal? Do que gostamos, falamos, a que damos valor?
A realidade é que a tristeza não desaparece diante de conquistas ou momentos aparentemente perfeitos. Ser humano é viver uma mistura de sentimentos, muitas vezes contraditórios. É possível sentir-se grato por uma viagem enquanto enfrenta problemas. Da mesma forma, alguém pode postar uma foto sorrindo e, minutos depois, lidar com ansiedade, solidão ou insegurança.
O perigo dessa trend está na ideia de que felicidade depende exclusivamente de fatores externos. Talvez seja a positividade tóxica que me incomode, aquela que chega a irritar de tanto querer parecer feliz. Essa mentalidade pode invalidar os sentimentos de tristeza, tornando-os menos aceitáveis, afinal, como alguém poderia estar triste com “tudo isso”?
O resultado é um ciclo de comparação e autocobrança, onde o sofrimento interno é reprimido porque não combina com a narrativa idealizada do Instagram. Emoções como tristeza e insatisfação são naturais. Ter momentos de alegria não significa ausência de problemas, e aceitar isso é fundamental para nossa saúde mental, de que tanto falamos.
É essencial refletir sobre o impacto que essas tendências têm em nossa percepção da felicidade. Ao compartilhar nossos melhores momentos, é válido celebrar conquistas e gratidão. No entanto, precisamos lembrar que o que postamos é apenas uma fração da realidade. Viver significa abraçar a montanha russa dos altos e baixos, mesmo quando as coisas não estiverem instagramáveis.