Havia seis palavras ou expressões finalistas da Univesidade de Oxford para 2024. Brain rot, traduzido aqui como podridão cerebral. Romantasy, que se refere a livros de fantasia romântica. Slop é uma espécie de spam da Inteligência Artificial, ou seja, mensagens indesejadas feitas por meio de robô. Lore seria algo relativo a tradição ou fatos sobre determinado assunto. Dynamic Pricing é a estratégia de alteração de preços de acordo com a demanda. Demure, por sua vez, fala sobre pessoas recatadas, reservadas e até fofas.
Em comum, todos são termos que se popularizaram a partir do uso em redes sociais, especialmente do Tiktok. Uma postagem que viralizou, um vídeo que teve muitas visualizações ou correntes que se formaram a partir de influencers. Não foi à toa que, diante de termos da internet, a primeira tenha saído vencedora. A votação popular elegeu brain rot como expressão do ano.
Ela caiu como uma luva pra mim quando penso do tempo perdido rolando a tela do celular, muitas vezes sem rumo. Quando a gente passa o dedo para o lado e vai indo, indiscriminadamente, e quando nota já passou uma hora sem um conteúdo fixado na cabeça ou sem ter aprendido mais do que meia dúzia de truques para regar as plantas ou deixar a sola do tênis bem branquinha. Sinto decepcionar, mas já tentei alguns deles e não funcionaram.
Brain rot não é algo exatamente novo. O primeiro registro que se tem notícia vem de 1854, por Henry David Thoreau, no livro Walden, ou A Vida nos Bosques, que trata de simplicidade, ambiente e espiritualidade a partir da vida dele mesmo. Lá pelas tantas o autor usa o termo para fazer referência às notícias dos jornais, que em nada agregavam, segundo ele, e ao pensamento da sociedade na época, neste trecho grifado por Oxford. "Enquanto a Inglaterra se esforça para curar a podridão da batata, nenhum esforço fará para curar a podridão cerebral — que prevalece muito mais ampla e fatalmente?". Ele fazia críticas ao pensamento raso, sem esforço, deixando de lado a intelectualidade. Dizia que a podridão cerebral vinha do pensamento pouco desafiador.
São exatos 170 anos depois e a mesma expressão se aplica, mesmo que em plataformas diferentes. Se lá atrás era pela observação da sociedade ou da imprensa, hoje é pelas redes sociais. Receitas fáceis para tudo, maneiras rápidas de aprender um idioma ou de emagrecer, vídeos que vão te prender por horas. Uma tela, mil possibilidades, horas deixadas ali. Confesso que prefiro não olhar o tempo de uso do meu celular diariamente. Embora utilize, e muito, para trabalho, a distração das redes sociais é uma realidade. Talvez diminuir a produção de podridão cerebral possa ser uma boa resolução para 2025.