Quando um pai percebe-se como um super-herói aos olhos de seu filho, ele tende a dedicar-se para não decepcionar seu maior fã. Foi o que aconteceu com Mauricio dos Santos, 33 anos, pai da Olívia, de cinco. Por meio de uma iniciativa da filha, ele mudou sua relação com a própria saúde.
Olívia participou de um projeto na escola que estimulava a alimentação saudável e, ao levar as novas ideias para casa, atingiu o pai em cheio. Brócolis, repolho, beterraba e outros vegetais foram incorporados ao cardápio da salada que, antes, só tinha tomate. O resultado da mudança logo apareceu e, neste Dia dos Pais, a família Santos terá um pai com quilos a menos.
– Emagreci seis quilos. A Olívia começou a conhecer diversas saladas e a pedir por elas em casa. Me reeduquei e, hoje, noto uma melhora principalmente no meu condicionamento físico – conta Mauricio.
Para a psicóloga Elisa Kern de Castro, coordenadora do programa de pós-graduação em Psicologia da Unisinos, o incentivo dos filhos é fundamental na hora de impulsionar uma mudança, especialmente porque os homens são culturalmente menos preocupados com a saúde:
– Pais são um modelo para a criança, seja bom ou ruim. Se o filho identifica no comportamento do pai algo que entende como errado e pede para ele mudar, o homem fica sensibilizado por ser o exemplo. Mais do que falar, o pai precisa mostrar.
Pesa também para os homens a ideia de que os filhos dependem deles, por isso julgam necessário estar saudável para se manterem vivos e acompanharem o crescimento da criança. No caso de Mauricio, o estímulo maior foi ver a saúde da filha e, consequentemente, do resto da família.
– Eu que faço a comida, então, a gente monta o cardápio, ela propõe alguns ingredientes e vai agregando alimentos mais saudáveis – diz o pai.
Homens ainda ficam longe do médico
O Ministério da Saúde divulgou na quinta-feira uma pesquisa feita pela ouvidoria da pasta em 2015, por telefone, com 6.141 homens cujas parceiras fizeram parto no Sistema Único de Saúde (SUS). Desse total, 31% afirmaram que não têm o hábito de ir às unidades de saúde para buscar auxílio na prevenção de doenças.
Questões socioculturais como preconceito e machismo são apontadas por especialistas como motivos frequentes para afastar os homens do consultório médico e, consequentemente, da prevenção ou do tratamento precoce de doenças.
– Em geral, o homem se cuida menos. Apesar do avanço, a sociedade é machista. Os homens não fazem a prevenção que deveriam, enquanto as mulheres vão ao ginecologista desde que começam a ovular – compara o andrologista e urologista Carlos Eurico Dornelles Cairoli, do Serviço de Urologia do Hospital São Lucas da PUCRS.
Ernani Luis Rhoden, urologista e andrologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, afirma que a maioria dos homens deixa de visitar o médico assim que se torna independente de seus pais:
– Os meninos só vão a uma consulta na adolescência se têm algo muito específico: doença sexualmente transmissível ou problemas de sexualidade.
Para a psicóloga Elisa, outro ponto que contribui para a falta de preocupação masculina é justamente a posição das mulheres de assumirem este tipo de cuidado. Segundo ela, a ala feminina entende que tem a obrigação de cuidar de si e do parceiro.
– A mulher se organiza para tratar da saúde, o homem não. Ainda existe a percepção cultural machista e patriarcal – analisa a especialista.
Cuidados básicos
– Problemas cardiovasculares e câncer de pulmão lideram a lista das doenças que mais matam os homens. Apesar de não ser tão fatal, o câncer de próstata é o mais comum.
– Todas elas podem ser identificadas e tratadas precocemente. O urologista e andrologista Ernani Luis Rhoden sugere que o acompanhamento rotineiro com um médico comece ainda na juventude.
– Segundo Rhoden, as pessoas vão envelhecer como viveram. Quem teve uma juventude saudável vai ter uma velhice saudável, e os filhos podem estimular os pais a procurar um médico.
– Além disso, cuidados básicos com alimentação, atividade física, evitar o consumo de álcool e eliminar o cigarro são pontos de partida importantes para melhorar a qualidade de vida e fugir de doenças.