TransEnem, cursinho popular que há nove anos é uma alternativa de preparação para vestibulares, Enem e Encceja para a população LGBT+, está com inscrições abertas para estudantes, professores e colaboradores.
O coletivo TransEnem foi fundado em 2016, como um programa de extensão do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Gênero e Sexualidade (NEPGS) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). O objetivo era criar um espaço de estudos para esta parte vulnerabilizada da população.
A ex-aluna Flor Vergínia Blanco Moreira, 35 anos, passou pelo TransEnem antes de entrar no Ensino Superior. Ela soube do cursinho pela internet e avalia que a iniciativa foi como um divisor de águas na sua vida.
— Eu me inscrevi, mas não sabia que o curso ia me ajudar em muita coisa além disso (dos conteúdos) — relembra.
Ela foi aluna em 2018 e 2019, em um momento em que queria mudar de vida. Na sua avaliação, o cursinho foi decisivo para conseguir a aprovação no curso de Letras na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), onde estuda hoje.
Após se assumir publicamente como do gênero feminino, aos 24 anos, ela teve que enfrentar os desafios da transfobia. Teve dificuldade para arrumar emprego e passou por uma situação financeira delicada. Segundo ela, o TransEnem teve um papel importante pelo apoio e o carinho que recebeu dos professores e colegas.
— (O cursinho) foi como uma mãe que me abraçou — conta a estudante, que planeja retornar como professora voluntária.
Acolhimento
Hoje, o cursinho tem cerca de 30 colaboradores voluntários e está em busca de professores de Português, Espanhol, Química e Matemática. Além disso, precisa de profissionais intérpretes de Libras, da Comunicação, Assistência Social, Pedagogia e Psicologia.
As aulas ocorrem de segunda a sexta no campus Porto Alegre do IFRS (Rua Coronel Vicente, 281), à noite. São cerca de 40 vagas e o início das aulas está previsto para 11 de março.
Professor voluntário do coletivo desde o ano passado, René Ackermann, 27 anos, é categórico ao defender a importância de um ambiente acolhedor na aprendizagem dos alunos:
— A educação e a aprendizagem significativa vêm do afeto, então você promover essa sensação de coletivo ajuda que os alunos prestem atenção e tenham vontade de aprender.
Ele exemplifica essa união entre alunos e professores com uma vaquinha organizada para que um estudante pudesse pagar parte das passagens de ônibus e continuar estudando. Além disso, menciona os conhecimentos que extrapolam os conteúdos didáticos.
No ano passado, René organizou uma aula aberta sobre sistema hormonal e hormonização. Foi a partir desta aula que algumas pessoas conheceram o funcionamento das terapias hormonais dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).
— Teve um aluno que frequentou aquela aula e conheceu o Ambulatório Trans de Porto Alegre. Agora, provavelmente vai começar a hormonização dele por lá — relata.
Organização coletiva
Outro diferencial do TransEnem é a subversão de uma vivência comum aos integrantes da comunidade LGBT+. Aquela que faz seus membros se sentirem estranhos nos círculos sociais em que frequentam, colocando sua identidade como um dos principais fatores de sua personalidade.
— Aqui minha identidade não é uma questão, como costumava ser em outros lugares por onde eu passei. Aqui, eu sinto que estou entre a nossa gente — diz Maitê Kessler Azambuja, 25 anos, professora de Física.
Ela chama atenção, porém, para a organização coletiva do cursinho. A ideia é que as decisões envolvam tanto os professores quanto os alunos.
— Nós acreditamos em uma educação popular que vai além do conteúdo e que possa servir para ajudar quem estuda. O que eu sinto é que isso tem um impacto muito grande no envolvimento das pessoas. Todo mundo é responsável por fazer a coisa andar — explica.
Inscrições
- As inscrições são gratuitas, mas as vagas são limitadas. O prazo é 15 de fevereiro
- Colaboradores podem se inscrever pelo formulário
- Já alunos pelo formulário.
- Mais detalhes pelo perfil do cursinho no Instagram
*Produção: Guilherme Freling