Diante do aumento nos números da covid-19 no Rio Grande do Sul, o governo gaúcho deverá definir, a partir da próxima segunda-feira (30), alterações nos protocolos de saúde para tentar conter o avanço da doença. Conforme o Executivo gaúcho, este é o "pior momento da pandemia de coronavírus até agora". Nesta sexta- feira (27), ao anunciar o mapa preliminar do modelo de distanciamento controlado — que classificou, pela primeira vez, todas as regiões gaúchas em bandeira vermelha, o que indica alto risco —, o governador do Estado, Eduardo Leite, afirmou que o RS enfrenta a segunda onda da doença.
— Os números apontam para bandeira vermelha em todas as regiões. É um alerta que se apresenta no nosso Estado, na mesma direção do que está acontecendo em outros Estados. Estamos de fato vivendo uma segunda onda de coronavírus aqui no Rio Grande do Sul e também em outras regiões — alertou Leite.
Para o reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, no entanto, o Estado sequer superou a primeira onda da doença.
— Na prática, a gente chama de segunda onda o que vemos na França, na Itália. É onde você tem uma primeira onda, aí os números dela baixam, se mantendo perto de zero, e aí voltam a subir. Mas nós nunca chegamos tão baixo, tanto no RS quanto no Brasil. O que vemos é um novo aumento ainda dentro da primeira onda — sustenta o reitor, que, durante a pandemia, coordenou pesquisas financiadas pelo Ministério da Saúde que indicavam a situação da pandemia no Brasil.
Segundo Hallal, o momento é o "mais dramático" até agora devido a uma combinação de fatores: o fato de que as pessoas cada vez mais estão deixando o isolamento e realizando aglomerações somado à queda no número de leitos disponíveis, já que muitos deles, tanto os de hospitais de campanha quanto os de UTIs, foram desativados.
— É o pior momento porque o vírus está circulando bastante e temos uma capacidade de atendimento menor — resume.
De acordo com o professor de Infectologia da Universidade Federal do RS (UFRGS) Alexandre Zavascki, o conceito de segunda onda não encontra consenso na comunidade científica.
— Não está errado você chamar de segunda onda. Mas há pesquisadores que entendem que só poderíamos usar esse termo caso a primeira onda tivesse sido controlada, o que realmente nunca aconteceu. No Brasil inteiro, nós nunca tivemos níveis baixos para caracterizar o fim da primeira — avalia.
Independentemente da nomenclatura, os especialistas concordam que o ponto mais importante é garantir que a população entenda a gravidade da situação e retome os cuidados necessários para combater o vírus. Um dos principais problemas, neste momento, é o aumento de encontros, que geram aglomerações, devido às temperaturas mais quentes e à proximidade com as festas de final de ano.
Para Zavascki, a intensidade e a duração das restrições que devem adotadas pelo governo vão depender de como a sociedade se comporta e da resposta do vírus às medidas.
— O problema está no dia a dia das pessoas, quando o vírus se transmite. E o pior dos problemas são as aglomerações, isso está bem demonstrado na literatura científica. A maioria das transmissões se dá a partir de poucos eventos, e eles envolvem grande concentração de pessoas, mesmo que elas estejam ao ar livre. São encontros em bares, qualquer tipo de reunião, festas. Hoje, o seguro é você sair apenas com as pessoas que já convivem com você no mesmo domicílio — explica Zavascki.
Conforme o professor, o comércio, se conseguir evitar aglomerações, é uma atividade que pode ser mantida, por exemplo.
Já para Hallal, as restrições precisam ocorrer imediatamente. Ele ressalta que a faixa dos jovens entre 15 e 29 anos é a que mais deixou de cumprir as medidas de cuidado necessárias, e precisa se conscientizar.
— Essa faixa já entendeu que, se adoecerem, dificilmente terão algo grave. Então passaram a ignorar os protocolos. Só que muitos deles moram ou têm contato com outras pessoas, e estão passando o vírus para elas, que terão complicações mais sérias — pondera. — Nós temos agora uma escolha a fazer. Ou fazemos restrições fortes nas primeiras semanas de dezembro, para garantir que tenhamos festas de fim de ano e alguma atividade social durante o verão, ou, sem essas maiores restrições, corremos um risco grande de passarmos as festas de fim de ano totalmente dentro de casa, sem poder sair.