Caríssimo, este texto é sobre você. Sim, sobre sua existência, seu valor, sua essência. Um lembrete de que, antes de qualquer coisa, há um protagonista na sua história. E esse protagonista é você.
Existe uma linha finíssima, quase invisível, entre ser uma boa pessoa para si e ser uma boa pessoa apenas para os outros. De um lado, você se enxerga, se respeita, compreende que tem dignidade e direito a ocupar espaço no mundo. Do outro, abre mão de si, se dissolve em demandas alheias, esquece de existir enquanto serve. O brilho se apaga, a subserviência toma conta, e você se torna um vulto de si mesmo.
Desprezar sua própria identidade é abrir caminho para o abismo. Um passo a mais para longe de si e, de repente, você se perde. No fundo desse buraco, tudo é escuro, nem sombra há para lhe guiar. Mas, eis uma boa nova: se a escuridão for total, olhe para cima. A luz está lá. E se o chão for enlameado, que sirva ao menos para o impulso de um salto. Afinal, não há outra opção senão sair dali.
O curioso é que a queda é fácil. A sociedade não se cansa de oferecer empurrõezinhos. Certamente, você já ouviu frases como: “seja humilde”, “ame o próximo”, “o amor é uma prisão”, “o trabalho dignifica o homem”, “família acima de tudo”. Pequenos mantras repetidos sem questionamento, talhados à exaustão no tecido social.
Veja bem, eu não discordo dessas sentenças de todo. Elas carregam verdades que foram moldadas por séculos. Mas me pergunto: ainda fazem sentido nos dias de hoje? Tomá-las como dogmas inquestionáveis é um convite à ansiedade, ao descontentamento, à dependência de psicotrópicos.
Vamos decupar essas ideias. A quem serve um amor que é sofrimento? Que valor tem um autossacrifício que anula o próprio ser? Excesso de humildade pode transformar alguém em tapete para ser pisado. O trabalho — que sim, pode ser dignificante — não pode ser a única fonte de dignidade. A família, por sua vez, não é uma bénção inquestionável; há laços de sangue que machucam mais que qualquer estranho.
Não se trata de negar o amor, o trabalho, a família. Trata-se de se colocar no centro da própria existência. De compreender que nenhuma relação deve ser baseada na anulação de um dos lados. Amar sim, mas sem se perder. Trabalhar sim, mas sem se consumir. Valorizar quem está por perto, mas sem se submeter a relações que ferem.
Se você não se enxerga, se não reconhece o próprio valor, você não existe. E um ser inexistente não ama de verdade, não constroi, não chega a lugar nenhum. Isso não é egoísmo. É sobrevivência.
Em resumo, viver exige protagonismo. Dentro do equilíbrio de ser parte de uma sociedade, é essencial construir nossas próprias regras de bem-viver. Tudo começa ao entender que somos únicos, necessários e insubstituíveis para nós mesmos. Antes de fazer algo pelo mundo, é preciso saber quem somos dentro dele.