Muito antes de invadirem as belas praias catarinenses nos verões, os argentinos planejaram a tomada de Santa Catarina. As Províncias Unidas do Prata, atualmente Argentina, lutaram contra o Império do Brasil na Guerra Cisplatina entre 1825 e 1828. O conflito resultou na independência do Uruguai, mas o plano envolvia a tentativa de acabar com a monarquia brasileira.
A tomada de territórios do Brasil começaria por Santa Catarina. Em novembro de 1827, o governador de Buenos Aires, Manuel Dorrego, assinou tratado que previa "tomar e ocupar a Ilha e a Província e torná-la República". Depois do território catarinense, a ação se estenderia às outras províncias, incluindo São Pedro do Rio Grande do Sul.
O episódio é contado em Guerra Cisplatina: Tomar e Ocupar Santa Catarina e torná-la República (Super Livros), novo livro de Nelson Adams Filho. O jornalista e historiador teve acesso ao tratado da ação militar no acervo do Archivo General de La Nación, em Buenos Aires.
— A província de Santa Catarina foi escolhida por uma questão estratégico-militar. O plano argentino previa a sublevação dos cerca de 1,3 mil mercenários alemães aquartelados no Rio de Janeiro; o sequestro, seguido de morte, se necessário, do Imperador Dom Pedro I; e o envio dos mercenários à Santa Catarina — explica Adams Filho.
Por uma série de percalços, a tomada não ocorreu. A revolta dos alemães no Rio de Janeiro ocorreu antes do prazo previsto, prejudicando a estratégia argentina.
Dorrego morreu fuzilado por seus compatriotas em 13 de dezembro de 1828, quando a guerra já havia terminado. O conflito deixou quase 10 mil mortos.
— Na avaliação dos próprios ministros e companheiros, um conflito desnecessário, pura vaidade pessoal de Dom Pedro I, que não queria perder o território da Cisplatina, reconquistado por seu pai em 1821. Houve ações desastradas e incompetentes tanto do Exército quanto da Marinha — avalia o historiador.
A Província Cisplatina virou a República Oriental do Uruguai.