
A vitória do Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional, conquistada no domingo (2) pelo longa Ainda Estou Aqui, foi celebrada com entusiasmo nas ruas de Porto Alegre nesta segunda-feira (3).
Em clima de festa, foliões foram às ruas do bairro Cidade Baixa, exibindo adereços e homenagens à atriz Fernanda Torres, protagonista da obra premiada. O evento improvisado reuniu dezenas de pessoas que, entre marchinhas carnavalescas, entoavam coros com os dizeres “Fernanda” e “Ainda Estou Aqui”.
Embora o calendário oficial dos blocos de rua em Porto Alegre esteja previsto para acontecer entre 28 de março e a primeira semana de abril, a conquista inédita para o país motivou a organização espontânea da celebração.
Apesar do Carnaval no bairro Cidade Baixa estar proibido pela gestão municipal, os organizadores afirmaram que cuidados foram tomados para não bloquear ruas ou causar transtornos aos moradores (saiba mais abaixo).
Organização
A mobilização independente começou por volta das 17h, em frente à Casa Verso. O local abriga um mural de três metros de altura que homenageia a atriz Fernanda Torres. De lá, o grupo seguiu em ritmo de festa até a Praça Garibaldi, onde, até as 20h30min, mais de cem pessoas confraternizavam ao som de músicas que exaltavam a cultura brasileira.
Para Philipe Philippsen, 36 anos, um dos organizadores da mobilização, a conquista do Oscar, assim como o Carnaval, reflete a força de cultura brasileira:
— Nós marcamos essa batucada independente, um bloco espontâneo, para celebrar essa vitória histórica. Nós juntamos a experiência que cada um tem, alguns sabem tocar instrumentos, outros gostam de dançar. Alguns chamam de bloco Fernanda Torres, outros de bloco Ainda Estou Aqui. O importante é que nós estamos aqui, ao lado da imagem dela (no mural de encontro) celebrando essa vitória e a cultura brasileira — disse.
Philippsen destaca a visibilidade a nível mundial que o tema do filme proporciona:
— Esse filme projetou ao redor do mundo a mensagem de que o país quer olhar para o assunto da repressão, da ditadura, dos desaparecidos, da violência do Estado contra os cidadãos. Nós vamos celebrar isso, nossa existência enquanto brasileiros, hoje, ganhadores do Oscar. Nós estamos em um momento onde Porto Alegre está reprimindo o seu Carnaval. O Carnaval é político, e nós, cidadãos de Porto Alegre temos o direito de ocupar as ruas com música e alegria — afirma o organizador.
A publicitária Monique Sabater, 41 anos, acrescenta que a premiação que consagrou a mais nova distinção brasileira ocorreu em meio ao Carnaval, o que representa dois motivos para festejar.
— A vontade é de vir para as ruas e celebrar. Ninguém pode nos tirar o direito de sorrir, nos proibir de comemorar. O Carnaval é uma festa popular e nós temos o direito de poder festejar a nossa cultura, o nosso cinema, a nossa arte. O Carnaval é a união de todas as nossas artes — analisa a publicitária, enquanto carrega uma réplica da estatueta do Oscar.
Carnaval proibido na Cidade Baixa
Após reuniões das associações de moradores e comerciantes da Cidade Baixa com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SMDET), a pasta repassou queixas da comunidade ao Ministério Público, que, em 26 de fevereiro, recomendou à prefeitura proibir eventos de rua durante o mês de março no bairro.
Na recomendação, o MP menciona o relatório “Carnaval de Rua de Porto Alegre 2015”, elaborado pela Brigada Militar, que lista uma série de obstáculos à realização do evento de rua no bairro. Entre eles, o fato de as vias serem estreitas, o que dificulta a saída dos foliões em caso de urgência, de uma arquitetura de residências com janelas junto às calçadas, o que aumenta a perturbação do sossego público, entre outros fatores.
O Executivo municipal, então, decidiu não autorizar a celebração na Cidade Baixa por conta da "impossibilidade de garantir segurança dos frequentadores, moradores e comerciantes".