Compactos e sem paredes dividindo os cômodos, os apartamentos do tipo studio foram os mais comprados em Porto Alegre no ano de 2024. Segundo a pesquisa Panorama do Mercado Imobiliário, do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon-RS), foram comercializadas 1.421 unidades do segmento de janeiro a dezembro. O levantamento foi feito em parceria com a Alphaplan – Inteligência em Pesquisas e a Órulo.
Ainda de acordo com a pesquisa, esse foi o quarto ano consecutivo em que os studios lideraram as vendas de imóveis verticais novos em Porto Alegre. Essa tendência, segundo a corretora imobiliária Andréia Severo, é puxada pelo interesse de investidores, inclusive do interior gaúcho, em adquirir um patrimônio que possa gerar renda mensal através de aluguéis de curtos ou longos períodos.
— Esse tipo de apartamento costuma ser construído próximo a universidades, já com a finalidade de locar para jovens estudantes que ainda não conseguem comprar um imóvel. Além de ter uma renda mensal, é um ativo que valoriza com o tempo — diz a corretora.
Além de vender, Andréia também comprou um apartamento studio para investir. Ela alerta que as melhores oportunidades surgem quando o imóvel ainda está na planta, ou seja, quando o edifício onde a unidade ficará ainda não foi entregue. Depois, se for alugar, a dica é incluir móveis sob medida, já que o espaço é menor.
Eber Pires Marzulo, professor da Faculdade de Arquitetura e da pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que, devido às limitações de tamanho, os edifícios com studios oferecem mais áreas compartilhadas pelo condôminos.
— É muito parecido com o já conhecido kitnet, mas traz algumas modificações. Os studios estão em edifícios em áreas melhor localizadas e com espaços compartilhados, como lavanderia. Não cabe tudo em um apartamento deste tamanho — diz o professor.
— É um produto oferecido para o comprador como investimento. O mercado não costuma oferecer para o uso, mas sim como uma renda extra — completa.
Vida minimalista
Diferente do perfil traçado pelo mercado, Adriano Braga, 55 anos, trocou uma casa de 460 metros quadrados no condomínio Terra Ville, em Porto Alegre, por um studio de 43 metros quadrados. A escolha se deu após um divórcio há sete anos, quando se mudou para um apartamento compacto em um prédio junto a um shopping. Por cinco anos, alugou a unidade, se adaptou e decidiu comprar uma própria no ano passado, de tamanho igual e no mesmo edifício.
Hoje, Adriano mora no apartamento com sua namorada, Adriana. Ambos são arquitetos e aplicaram as técnicas de sua profissão para reformar o studio, que conta com cozinha integrada com a sala e o quarto, além de um banheiro separado. Cada canto foi aproveitado com móveis sob medida.
— Comecei a ter outro estilo de vida. Eu tinha muitas peças antigas, mas vi que não precisava de tudo aquilo. Fora que ter uma casa grande custa caro, gera bem mais custo com coisas que estragam — diz Adriano.
— Abri mão de ter bolsas, sapatos. Tive uma resistência no começo, eu também morava em uma casa grande, mas fui me adaptando e vendo que dava para ter uma vida minimalista — completa a namorada.
Os dois trabalham em um prédio comercial no mesmo complexo junto ao shopping. Devido à proximidade, almoçam em casa todos os dias. Além de usufruírem da estrutura do condomínio, como a lavanderia e a academia, fazem compras para a casa em um hipermercado ao lado, sem precisar usar carro.
— Só saio daqui se o cenário mudar, pois a vida tem fases. Se meus filhos quiserem morar comigo um dia, eu teria que ir para um apartamento maior, com quartos. Do jeito que está agora, não tem por que sair daqui — diz Adriano.
— Só não dá para dormir emburrado, pois não tem onde se esconder — brinca.
Investimento
De Soledade, a empresária Raquele Scorsatto, 43 anos, comprou um studio em Porto Alegre no ano passado. A ideia, segundo ela, é ter um rendimento mensal, porém, no futuro, quer que os filhos possam usar o espaço como moradia, caso queiram estudar na Capital. Por enquanto, a unidade está sendo alugada na plataforma Airbnb.
— Aqui, no interior, não existe essa opção de apartamento. Quando o corretor apresentou essa proposta, de um imóvel para rendimento mensal e com uma forma de pagamento que estava dentro das nossas condições, topei. Achei bom e compramos mais um na planta, que será construído no bairro Menino Deus — diz Raquele.
De Marau, no norte do Estado, o contador Vinicius Mello, 39 anos, também enxergou em Porto Alegre uma oportunidade de investir no mercado imobiliário. Ele já possuía dois studios na Capital, nos bairros Passo d'Areia e Moinhos de Vento. Antes de encerrar 2024, comprou mais um na planta, em um empreendimento que será erguido no bairro Praia de Belas.
— Ainda vai demorar para ser entregue (o apartamento), mas, pegando os outros como base, estou com uma boa expectativa em relação ao investimento — diz Vinicius.
Aposta das construtoras
As áreas centrais de Porto Alegre são as mais procuradas pelas construtoras para erguer empreendimentos focados em studios. Nestas regiões, há menos terrenos disponíveis e, por isso, são mais valorizados. A estratégia do mercado é erguer nestes espaços empreendimentos em que caibam mais unidades de menor tamanho.
Em sua estreia no Centro Histórico, a ABF Developments fará um prédio de 23 andares perto do Cais Embarcadero. Serão 340 apartamentos studio, de 21 a 32 metros quadrados. O preço das unidades vai de R$ 300 mil a R$ 500 mil. O CEO da empresa, Eduardo Fonseca, diz que quer atrair investidores que compram para alugar. Já com as licenças, a obra do CAIZ Downtown Sunset, como será chamado o empreendimento, começa em abril, com entrega em 2027. Já com tapumes, o terreno de 1,6 mil metros quadrados fica na Rua Washington Luiz.
Ainda no mesmo bairro, o empresário Kléber Sobrinho terminou recentemente a reforma do Cais Rooftop, primeiro prédio a ser revitalizado no Centro Histórico com as regras de um plano diretor próprio para a região. Também com foco em studios, o empreendimento fica na esquina da Rua Caldas Júnior com a Avenida Mauá. São unidades de 25 a 51 metros quadrados, onde 100% dos compradores as adquiriram para alugar por curta temporada.
Sobrinho também comprou, por R$ 2 milhões, o prédio ao lado, onde começou uma reforma similar. A estrutura, de 1949, abrigava escritórios, que serão transformados em 50 moradias de 20 a 25 metros quadrados. Com investimento de R$ 6 milhões, o serviço está sendo executado pela Toniolo Engenharia em parceria com a incorporadora Recons.
Na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, bairro Praia de Belas, a Cyrela Golsztein se prepara para começar a obra de outro empreendimento com vista para o Guaíba — e também com foco em apartamentos compactos. O Vista Praia de Belas foi a retomada dos lançamentos da construtora após a enchente de maio do ano passado. O investimento é de R$ 90 milhões. Todos os 419 apartamentos, de 18 a 21 metros quadrados, foram vendidos em 14 dias. Segundo o CEO da empresa, Rodrigo Putinato, o principal público é o de investidores que compram para alugar, estimulados pela proximidade com órgãos do Judiciário na região.
E bastante próximo dali, a concorrente GND Incorporadora, com sede em Santa Catarina, está investindo R$ 50 milhões para erguer um prédio de 51 metros de altura, com 104 apartamentos, entre studios e unidades de dois dormitórios. Terão de 25 a 60 metros quadrados, com preços que vão de R$ 360 mil a R$ 940 mil. O terreno onde o prédio está sendo erguido tem 1,4 mil metros quadrados. Fica na Avenida Borges de Medeiros, a 270 metros da orla do Guaíba. A obra começou em janeiro do ano passado, e a entrega está prevista para o final de 2026.
Características do studio
No studio, sala, quarto e cozinha são integrados em um só cômodo, exceto o banheiro. São moradias de metragem menor, de 20 a 50 metros quadrados, em média. Devido ao tamanho, costumam ter valores menores se comparados a apartamentos padrão, cuja metragem é maior e os ambientes estão divididos. Em razão do espaço reduzido, é comum que a estrutura do condomínio ofereça espaços compartilhados, como lavanderia, coworking, salas de reunião, salão de festas e áreas de convivência e de lazer.
Diferença entre outros compactos
Kitnet
- Entre 20 e 50 metros quadrados, formado por quarto, banheiro e cozinha — que costuma incluir área de serviços — não oferece, necessariamente, lazer e espaços de serviços.
Loft
- Sem paredes internas, pé-direito duplo, design industrial com instalações aparentes, a metragem pode variar bastante.
Flat
- São mais compactos, inspirados em quartos de hotel, tanto na decoração como na oferta de facilidades. Costumam contar com serviços de limpeza, lavanderia, troca de roupa de cama e refeições.
JK
- Compacto como um loft ou kitnet, sem nenhuma parede interna além das que compõem o banheiro. Não está, necessariamente, em localização privilegiada e pode ou não contar com lazer e espaços de convivência.
Fonte: Loft, plataforma digital que atua no mercado imobiliário