Uma escultura de bobo da corte vem causando discussões acaloradas pelas ruas de Alvorada. A estátua, que fica na esquina das avenidas Presidente Getúlio Vargas e Frederico Dihl — na praça Padre Léo, próximo à parada de ônibus 43 —, também é assunto em grupos de moradores nas redes sociais.
— É a cara de Alvorada — comenta um, criticando a prefeitura.
— Estão chamando o povo de bobo — complementa outro, logo abaixo.
— Mas vão arrumar os buracos que têm aí do lado dessa estátua que ninguém conhece — diz mais um morador.
O bobo da corte não representa os moradores nem teve dinheiro público envolvido, garante a prefeitura. Trata-se de uma homenagem ao Quatro Ases, um dos heróis da história em quadrinhos Super Tinga e a Abelha Girl, que vai virar série de TV em 2019. O personagem é inspirado no ator e professor de teatro Rogério Valim, 46 anos, morador do bairro Umbu.
O Quatro Ases é o guardião da terceira dimensão que protege o espaço das ameaças dos vilões da quarta dimensão. Com superpoderes infinitos, ele entra em ação quando é desafiado em jogos e apostas pelos inimigos. Sempre que sobra um tempinho, ele gosta de passear por Alvorada, sua cidade preferida em todo o universo.
— O Quatro Ases é um cara debochado, provocador. Tu tens que jogar contra ele — complementa o criador, que já previa toda a polêmica na cidade. — O bobo da corte era a única pessoa que podia fazer críticas ao rei usando a comédia. Ele faz piada dele mesmo, dos defeitos do reinado e do que pode melhorar. É para ser polêmico mesmo, fazer com que os moradores questionem — enfatiza Moucks.
O personagem foi criado em 2003, quando o ilustrador conheceu Valim. Moucks, morador da Restinga, na Capital, visitava a cidade em busca de recursos para a produção de um curta-metragem quando a então prefeita, Stela Beatriz Farias Lopes, sugeriu que ele procurasse o ator. Valim já era conhecido na cidade pela produção de peças teatrais em escolas públicas: foi de uma dessas peças, chamada Quatro Ases e um Coringa, que surgiu a ideia do herói.
— A gente consegue melhorar a autoestima das crianças, em uma cidade tão pobre como a nossa. Mostramos que é possível seguir outros caminhos além das drogas e da violência — diz o ator.
Em 2019, o Quatro Ases deve sair das histórias em quadrinhos — e estátuas — para ganhar corpo e voz na televisão: a obra foi uma das 50 selecionadas pelo programa Brasil de Todas as Telas, da Agência Nacional de Cinema (Ancine), com financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual e apoio do Ministério da Cultura. Graças ao projeto, Super Tinga e a Abelha Girl vai virar uma série de tevê com 13 episódios de 26 minutos cada. A produção já está com as gravações concluídas e será exibida em pelo menos 200 canais públicos em países de língua portuguesa.
— Os super-heróis brasileiros estão ganhando vida, igual aos americanos, da Marvel e da DC. Aos poucos, o pessoal que reclama da estátua vai entender e vai gostar, que nem as crianças já fazem — espera Valim.
Mais estátuas em breve
Desde 2017, já foram colocadas quatro esculturas: três no Estado e uma fora do Brasil. Além de Alvorada, a Restinga recebeu o Super Tinga; em balneário Pinhal, está a Abelha Girl; já o Super Tinga Boy virou estátua em Uganda, na África. Mais duas cidades da Serra devem ganhar um Quatro Ases em breve: Canela e Gramado. Os monumentos são produzidos pelo escultor Fernando Ulisses Guimarães e financiados pela Making Of, empresa que licencia a história.
Nos próximos meses, a escultura deve ganhar um mural de vidro blindado, com explicações sobre o personagem e desenhos de outras crianças. Também serão distribuídas revistas das histórias em escolas públicas da cidade, para que todos conheçam e acompanhem as aventuras do super-herói alvoradense.
— O bobo da corte vai continuar incomodando muita gente — garante Moucks.