A jornalista Sônia Bridi participou de um bate-papo na Sala dos Jacarandás do Memorial do RS sobre seu segundo livro, Diário do Clima: Efeitos do Aquecimento Global. Ela e o marido, o cinegrafista Paulo Zero, viajaram durante seis meses por 14 países em busca de explicações e soluções para o problema, e o diário de bordo da viagem está registrado na obra.
As viagens não foram a turismo, mas a trabalho: Sônia e o marido estavam fazendo uma série para o Fantástico chamada Terra: que tempo é esse?
- Há investigações científicas nos locais onde as principais mudanças climáticas estavam sendo apontadas e fomos a esses locais conferir se a situação era real - diz Sônia.
De acordo com a jornalista foram seis meses muito intensos. Ela conta que no Peru, por exemplo, ela e o marido viram uma celebração sagrada para o gelo andino.
- Aqui temos fartura de água e esquecemos que lá é deserto. Eles só podem plantar onde tem água do degelo e sistemas de irrigação. Daqui a 20 anos não vai mais existir gelo nos Andes tropicais - só as montanhas muito altas vão ter gelo e possivelmente não exista mais volume de água suficiente para sustentar a agricultura na região - conta Sônia.
Bolívia, Islândia e Veneza foram alguns dos locais visitados. A jornalista disse que na Groenlândia foram conhecer o Ártico, local onde o gelo está derretendo numa velocidade que nem o mais pessimista poderia prever.
- O pessoal da Groenlândia está gostando do aquecimento, pois agora estão conseguindo plantar batata e alface e receber mais turistas em razão do clima menos inóspito. Nem todo mundo perde com as mudanças climáticas, por isso há tanta controvérsia - avalia a jornalista.
Sônia explica que o critério utilizado para escolher os cientistas que foram entrevistados no livro, que é uma espécie de making of da série apresentada no Fantástico, foi que tivessem pesquisa publicada em revista científica e revisada pelos seus pares. Para a jornalista, um dos momentos mais emocionantes da viagem foi chegar ao topo do Monte Kilimanjaro
- Cheguei chorando, nem acreditava que tinha chego lá. Eu queria chegar e dizer: eu vi. E o que eu vi foi terrível. Hoje só há cerca de 15/% da neve que inspirou Hemingway a escrever seu conto - emociona-se a jornalista.
O preparo físico de Sônia para subir o Kilimanjaro foi intenso: mesmo trabalhando 12 horas por dia, acordava cedo para correr e fazer agachamentos.
- Vi muita gente jovem desistindo da subida e percebi que minha cabeça foi fundamental para o meu preparo. Eu fui exposta a uma situação extrema e consegui ir até o final, mesmo aos 46 anos. Isso me deu uma injeção de autoconfiança gigante, que eu nem esperava ,e hoje levo isso pra vida - desabafa.
A ideia da jornalista ao escrever o livro era que o leitor pudesse viajar com ela e experimentar as mesmas situações que ela experimentou; que pudesse conversar com os cientistas junto com ela para tentar entender o que eles estão dizendo.
- Tive a preocupação de apresentar os dados científicos de uma maneira que as pessoas entendam. Tive que estudar muito para compreender o que os cientistas querem dizer, pois só assim eu consigo passar as informações de uma maneira clara e atraente para o público - explica Sônia.
A jornalista conta que, após as viagens, sua percepção mudou muito e que hoje ela é uma consumidora de energia muito mais consciente.
- Aprendi que o ciclo natural da Terra sempre tem uma causa. Algo sempre está associado ao aquecimento ou ao resfriamento da terra. 95% das pesquisas mostram que o aquecimento global está ligado à concentração de carbono no ar, e o carbono é derivado da atividade humana. Por isso acho que temos que focar na prevenção. Não vai fazer mal a ninguém se cada um de nós fizer o que está ao seu alcance pela natureza. Não vamos perder nada com isso. Temos mais informações hoje, por isso temos que agir de acordo com o nosso tempo - conclui Sônia.