O músico e compositor Humberto Gessinger, líder do Engenheiros do Hawaii e integrante do projeto Pouca Vogal com Duca Leindecker, aventura-se na literatura há algum tempo. Na Feira do Livro de Porto Alegre, está lançando sua quarta obra. Nas Entrelinhas do Horizonte se inspira em textos que o músico publica em seu blog, o BloGessinger. O livro envolveu o desafio de transformar em crônicas os posts do blog. Ele participa de um bate-papo nesta terça às 17h30, na Sala dos Jacarandás, no Memorial do Rio Grande do Sul. Às 19h, autografa o livro na Praça de Autógrafos.
Zero Hora - Nas Entrelinhas do Horizonte é um livro diferente de Pra Ser Sincero e de Mapas do Acaso, nos quais você traz letras de músicas. Quais são as peculiaridades de Entrelinhas... que o diferenciam das duas outras obras?
Humberto Gessinger - Demora um pouco pra gente descobrir que livro escreveu, que música compôs. Muitas vezes, quem nos faz entender a própria obra é o leitor, o ouvinte. Muita gente me disse que este livro dá uma sensação de proximidade maior do que os anteriores. Houve até quem dissesse que nem ouvindo minhas músicas se sentia tão próximo. Talvez seja uma característica do meio: a literatura une a solidão de quem escreve com a solidão de quem lê; na música, nem sempre a relação é tão intensa, às vezes, é só um assobio. Talvez aí esteja um diferencial deste livro em relação aos outros: escritor e leitor estão mais próximos. Menos elos na corrente que liga um ao outro.
Zero Hora - Várias letras fazem referência a obras literárias, como O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse e que aparece em Segunda-Feira Blues, e As Portas da Percepção, de Aldous Huxley, citado em Exército de um Homem Só e que também faz referência à obra de Moacyr Scliar. A literatura influencia de que maneira suas composições?
Humberto Gessinger - Não busco isso e, se pudesse escolher, até evitaria expor estas referências. Mas canções não são feitas de escolhas. Na hora H, o inevitável é o que dá as cartas. Os livros que li fazem parte da minha vida como as pessoas que conheci, os medos que senti, as alegrias que tive... Por isso, eles pintam nas músicas.
Zero Hora - Atualmente, você tem sessões de twitcams agendadas com os twitteiros e atualiza o seu Twitter frequentemente. Como é a sua relação com o trabalho na internet? No que você acha que contribui para a sua profissão?
Humberto Gessinger - Gosto da tecnologia quando ela é invisível. Quer me fazer dormir? É só falar em sistema operacional. Para artistas como eu, sem vontade nem talento para hegemonia, é uma benção poder falar direto pra quem tá vibrando na mesma frequência. Não depender dos filtros dos meios de massa, não ficar preso à proximidade geográfica, que maravilha! Felizmente sobrevivi aos tempos em que 2 ou 3 caras dos jornais que faziam a cabeça do país inteiro falavam contigo sem anotar uma palavra e depois escreviam matérias em que as teses se sobrepunham aos fatos. Hoje, quase todas as cartas estão na mesa. Quem quiser saber qual é, saberá.