Finalmente livre dos tapumes e dos improvisos exigidos pelas obras de revitalização, a Praça da Alfândega recepcionou na tarde de ontem, de visual renovado, os primeiros leitores da 58ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Pela área central, mais ampla e com ar de novidade até para quem está acostumado com a festa literária que começa em todo outubro, circulava um grupo de estreantes.
Movimentavam-se falando entre si, certos de preservar a intimidade de seus assuntos. Raros seriam os ouvidos aptos a bisbilhotar a conversa dos estudantes David, Inês, Clara e Tiago, jovens chineses descobrindo a Feira do Livro. Ao abordar algum livreiro, contudo, falavam em bom e compreensível português, ainda que com graus variados de sotaque.
David, Inês, Clara e Tiago são, na verdade, Kai Wang, Luwen Yan, Si Lang e Yun Ling, vindos de diferentes cantões da China (menos de Cantão, frise-se). Foram até o Centro de tanto ouvir recomendações de colegas de faculdade e amigos. Tiago e Inês têm aulas na UFRGS, Clara, na PUCRS, os três em áreas de Letras e Linguística. David vai prestar vestibular no ano que vem, também para Letras.
- Nossos amigos disseram muito: vocês têm de ir lá. Aí viemos - comentou Tiago, 21 anos.
A troca dos nomes é plenamente explicável. Para facilitar a comunicação no Brasil, a turma adotou nomes comuns por aqui, escolhidos a partir de uma lista apresentada em suas escolas de origem.
- Minha professora disse o que significava, e resolvi que seria esse - explicou Clara, satisfeita com "brilhante" como definição.
Há dois anos residindo no Brasil, a estudante de 22 anos era a única do grupo que já havia circulado pela praça, quando os estandes ainda disputavam espaço com os tapumes das obras de revitalização. Os outros amigos faziam sua estreia, passeando pelos corredores, conferindo os títulos em exposição nas bancas. Buscavam, especificamente, títulos que lhes seriam úteis.
- Os livros na China são muito mais baratos do que aqui - comparava Tiago.
Da literatura brasileira, Tiago, no país há apenas dois meses, conhece apenas obras de Paulo Coelho, como O Alquimista ou Verônika Decide Morrer. Não procurava nenhum desses, entretanto, e sim um dicionário de dificuldades da língua portuguesa que avistara em uma feira universitária. Mais acostumado a comprar livros pela internet, prática que na China garante preços mais em conta, Tiago julgou um tanto difícil o funcionamento da Feira, com diversas barracas expondo os mesmos livros.