
O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer, afirmou que caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decida tirar o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), de seu governo estará demitindo também o próprio partido.
— Na minha opinião, se Lupi for demitido, eu acho que ele (Lula) demite o partido. Acho que o partido não tem que colocar substituto de maneira alguma — disse Heringer em entrevista ao Poder360.
O ministro, que foi presidente nacional da sigla durante anos, enfrenta desgaste na pasta diante da investigação da Polícia Federal (PF) que revelou esquema de descontos ilegais bilionários em benefícios de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), entre 2016 e 2024. Lupi não está sendo formalmente investigado pela PF.
Na entrevista, Heringer também defendeu que o PDT não faça uma nova indicação para o ministério caso o correligionário seja mesmo demitido, e afirmou que a pasta "só dá problema", sendo muito visada pelo alto volume orçamentário.
— Não há possibilidade de a gente fingir que o nosso companheiro não foi atingido — disse o deputado, afirmando ter "certeza absoluta" de que o partido não tem nenhuma responsabilidade sobre o crime.

Lupi nega omissão
No domingo (27), Lupi negou ao Estadão/Broadcast que tenha se omitido ao receber alertas de fraudes no INSS desde 12 de junho de 2023, revelados em reportagem do Jornal Nacional com base em atas de reuniões. O ministro afirma que determinou uma apuração sobre o tema, concluída em 6 de setembro de 2024.
— Não me omiti, procurei agir — declarou Lupi à reportagem.
Fraudes no INSS
No dia 23, foram cumpridos mandados de busca e apreensão e de prisão em 13 Estados, incluindo o Rio Grande do Sul, e o Distrito Federal.
As ações ocorreram no âmbito da Operação Sem Desconto, que teve como foco um esquema bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), envolvendo o desvio de recursos de aposentados e pensionistas ao longo de vários anos. Onze entidades são suspeitas de desconto irregular em benefícios entre 2019 e 2024.
Conforme a Polícia Federal, os descontos alcançaram R$ 6,3 bilhões e quase 100% deles foram irregulares. As entidades formalizavam Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS, o que permitia o desconto em folha dos beneficiários do órgão. Em muitos casos, a liberação era fraudada.
Fraude no INSS
Auditoria da CGU
O ministro da CGU, Vinicius de Carvalho, afirmou que foi analisada uma amostra de aposentados e pensionistas e, nela, quase 98% não reconhecia ter autorizado os descontos.
Para isso, foram entrevistados cerca de 1,3 mil beneficiários que tinham descontos em folha de pagamento. Em geral, eles não identificaram a solicitação pelo benefício — não autorizaram — ou disseram acreditarem "ser um desconto obrigatório".
Conforme a CGU auditou, o volume de descontos triplicou em menos de um ano, chegando a quase R$ 250 milhões por mês.
Investigados
Até o momento, além de Stefanutto — demitido do cargo —, cinco servidores públicos foram afastados:
- Vanderlei Barbosa dos Santos, diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão;
- Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-Geral do INSS;
- Geovani Batista Spiecker, coordenador-geral de Suporte ao Atendimento ao Cliente;
- Jucimar Fonseca da Silva, coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios;
- Agente da PF que trabalha no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, mas não teve o nome divulgado.
A PF mobilizou 628 agentes junto aos 80 servidores da CGU para cumprir 211 mandados de busca e apreensão, com ordens de sequestro de bens no valor de mais de R$ 1 bilhão e seis mandados de prisão temporária no Distrito Federal.
Em Porto Alegre a PF cumpriu um mandado de busca dentro um escritório compartilhado (coworking) onde, segundo a PF, ficava uma financeira ligada aos investigados. O local fica dentro de um centro comercial no Jardim Europa, na Zona Norte. Ninguém foi preso nesta ação.
Os investigados na operação poderão responder pelos crimes de corrupção ativa, passiva, violação de sigilo funcional, falsificação de documento, organização criminosa e lavagem de capitais.
Estados onde a PF cumpriu mandados na operação do dia 23
- Alagoas
- Amazonas
- Ceará
- Goiás
- Maranhão
- Mato Grosso do Sul
- Minas Gerais
- Paraná
- Pernambuco
- Rio Grande do Norte
- Rio Grande do Sul
- São Paulo
- Sergipe