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Um dos detalhes que chamou a atenção da Polícia Federal (PF) na investigação da Operação EmendaFest é que houve mudança de destinação de valores de emenda depois que investigados por suspeita de receber propina conversaram sobre o negócio.
As emendas, de autoria do deputado federal gaúcho Afonso Motta (PDT), estavam destinadas a outros órgãos públicos, mas acabaram sendo redirecionadas ao Hospital Ana Nery, de Santa Cruz do Sul. Foi nesse circuito que a PF acredita ter ocorrido desvio de valores para pagar lobistas, funcionários do hospital e um ex-assessor do parlamentar.
Em novembro de 2023, o então diretor administrativo e financeiro da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), Cliver André Fiegenbaum, se apresentou ao então assessor do deputado, Lino Furtado. Na conversa, por mensagem, Cliver falou da sua experiência em política, de ter sido chefe de gabinete de prefeito em Estrela e sobre estar atuando na Metroplan. Dias depois, os dois se encontraram na região de Rosário do Sul, cidade de origem de Lino. A partir disso, segundo a investigação da PF, o destino das emendas foi modificado.
Zero Hora apurou que uma das remessas, de R$ 200 mil, estava destinada ao Fundo Municipal de Saúde de São Miguel das Missões. A outra, de mesmo valor, ia para a Fundação Universitária de Cardiologia. Ambas acabaram sendo enviadas para o Hospital Ana Nery.
Cliver, que foi afastado do cargo na Metroplan por ordem da Justiça Federal e só depois exonerado pelo governo do Estado, é apontado na investigação como lobista. Ele tem uma empresa que firmou contrato com o hospital prevendo que ele receberia 6% dos valores captados de emendas. Notas fiscais reunidas na investigação indicam o pagamento pelo hospital de "comissões" à empresa CAF representação e intermediação de negócios, de propriedade de Cliver.
Na terça-feira (18), o deputado exonerou Lino, que era seu chefe de gabinete. Lino também já estava afastado da função pública desde o dia da operação por ordem da Justiça Federal.
Questionado sobre mudança de destinação de emendas, no dia da operação, Afonso Motta explicou, em entrevista coletiva, que "algumas emendas não se cumprem por questões formais de quem é o beneficiário e, ao que me consta, nessa avaliação preliminar, uma ou duas emendas eram destinadas para um município e acabaram indo para outro município". Zero Hora pediu ao gabinete de Motta informações sobre o motivo da mudança especificamente na destinação das emendas sob investigação, mas a assessoria informou que valia a resposta já dada pelo parlamentar na coletiva.
A reportagem segue tentando contato com Cliver e Lino.
Operação EmendaFest
- A investigação é da Delegacia de Combate à Corrupção e de Crimes Contra o Sistema Financeiro, comandada pelo delegado Wilson Klippel Cicognani Filho.
- Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão em Brasília e no Rio Grande do Sul. Os crimes investigados são desvios de recursos públicos, corrupção ativa e passiva.
- No RS, os mandados foram cumpridos em Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, Estrela e Lajeado, no Vale do Taquari, e Rosário do Sul, na Fronteira Oeste.
- A Justiça também determinou o afastamento do cargo e das funções públicas de dois investigados — Lino e Civer —, além do bloqueio de valores de contas de pessoas físicas e jurídicas.
- -Os mandados foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino.