Na primeira entrevista desde que assumiu o comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), a procuradora Raquel Dodge afirmou, nesta terça-feira (26), que as investigações no âmbito da Operação Lava-Jato terão “prosseguimento natural” e “todo o apoio” em sua gestão. Ela também disse que o instituto da delação premiada, usado amplamente no combate à corrupção, tem “resultado transformador” e ajuda a combater crimes cometidos “entre quatro paredes”.
A procuradora explicou que o processo de revisão da delação dos executivos da JBS está em andamento, e que ela e sua equipe estão tomando conhecimento do caso. Dodge evitou comentar a condução do acordo por seu antecessor, Rodrigo Janot.
— É um momento de estudo e reflexão sobre o que faremos — disse a procuradora, em relação ao futuro do acordo dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Dodge se manifestou a favor da validade de provas de acordos que sejam eventualmente rescindidos, mas não quis adiantar um parecer sobre o caso da JBS.
Na coletiva, a procuradora-geral não quis comentar o teor da denúncia de obstrução da Justiça e organização criminosa contra o presidente Michel Temer, que tramita na Câmara, mas ressaltou a manifestação que encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada, sobre o pedido da defesa de Temer para suspender a tramitação.
Em um memorial entregue aos ministros da Corte, Dodge opinou que a acusação contra o peemedebista deveria seguir o trâmite normal, com análise prévia pelos parlamentares.
Questionada, a procuradora também comentou a exoneração do procurador Sidney Pessoa Madruga, indicado por ela para coordenar um grupo na área eleitoral da PGR. Madruga foi flagrado pelo jornal Folha de S. Paulo conversando com uma advogada que representa a JBS.
Na ocasião, o procurador afirmou que havia uma "tendência" dentro da PGR de investigar Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete de Rodrigo Janot. Dodge disse que Madruga acertou em pedir para sair do cargo, pois a função exige "sobriedade".
A entrevista da procuradora-geral foi concedida após Dodge participar de uma reunião, na sede da PGR, sobre os recentes casos de violência no Rio de Janeiro. Dodge recebeu os ministros da Defesa, Raul Jungmann; da Justiça, Torquato Jardim; e do gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen. Foi a primeira conversa sobre ações conjuntas que poderão ser adotadas.
– Tivemos as primeiras percepções, o diagnóstico da situação, do que é da alçada do governo federal. As conversas irão continuar nos próximos dias e nas próximas semanas – afirmou.