
Medo e ansiedade podem ser emoções comuns para uma criança quando o assunto é uma consulta ao dentista, mas um grupo de pesquisadores de Passo Fundo, no norte gaúcho, têm contado com uma ajuda inusitada para facilitar os atendimentos: a cadela Campeira.
A pesquisa realizada no Doutorado em Odontologia da Atitus Educação avalia como a presença do animal, da raça Collie, pode tornar o atendimento odontológico mais acolhedor e menos estressante para pacientes entre cinco e 12 anos.
No estudo, os pesquisadores permitem que Campeira fique ao lado das crianças durante todo o atendimento odontológico. Os pacientes podem fazer carinho e tocar o animal enquanto o cirurgião dentista faz o trabalho.
O objetivo é observar quais os índices de medo e ansiedade odontológica dessas crianças quando a cadela Campeira está, ou não, presente. Essas evidências ficam mais claras a partir da medição dos sinais vitais, como frequência respiratória e cardíaca.
— São percepções psicossociais que conseguimos avaliar comparando os atendimentos. Assim, podemos ver se de fato o cão melhora essas percepções durante a consulta — explicou a cirurgiã dentista Fernanda Ruffo Ortiz, que orienta a pesquisa.
Medo de dentista é coisa do passado
Uma das primeiras pacientes a serem atendidas pela Campeira, Mariah Eduarda Cezar da Fonseca, 9 anos, conta que a presença da cadela deixou tudo mais leve. Apaixonada pelos animais, a pequena tem três cachorros em casa: Mariazinha, Bitelinho e Boladinho — mas, se pudesse, teria mais um.
— Eu estava um pouquinho nervosa, mas depois relaxei. Só volto de novo se tiver a Campeira — disse, bem-humorada.
O estudo compara atendimentos realizados com e sem a presença de Campeira e avalia impactos na ansiedade odontológica, percepção de dor, sinais vitais e qualidade de vida relacionada à saúde bucal.
— As crianças que têm esses parâmetros mais elevados, como medo e ansiedade, não colaboram com o atendimento e isso pode ser prejudicial. Com a presença do cão, buscamos um atendimento mais acolhedor — explica a dentista Juliane Taufer, uma das autoras do estudo.
A participação da collie Campeira foi pensada, principalmente, pelo seu aspecto dócil e acolhedor.
— Temos essa aproximação do paciente, já que a criança se identifica com o cão. Hoje, por exemplo, um paciente chegou aqui e não precisava ser atendido por ela, mas já chegou perguntando: cadê a Campeira? — contou Juliana Sebem, que é médica veterinária e também autora do estudo.
Pelo menos 36 crianças devem participar do estudo. Os resultados devem ser divulgados no final do ano, quando as pesquisadoras concluírem as análises estatísticas dos pacientes. A ideia também é publicar estudos com a metodologia antes da conclusão da tese, assim como resultados preliminares.