Após muitas articulações internas entre os partidos eleitos em 2024, foi definida a Mesa Diretora de 2025 da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. A Casa será presidida pelo vereador Lucas Caregnato (PT). Completam a Mesa Wagner Petrini (PSB), como 1º vice-presidente, Andressa Marques (PCdoB), como 2º vice-presidente, Alexandre Bortoluz (PP), como 1º secretário, e Andressa Mallmann (PDT), como 2ª secretária. O Pioneiro entrevistou o novo presidente para saber como foi essa discussão entre as siglas, quais são seus planos para a Casa Legislativa durante o mandato e de que forma trabalhará com o Governo Adiló.
Até a última legislatura, havia um acordo informal de que as quatro maiores bancadas presidiriam a Câmara em rodízio. No entanto, essa tradição foi reavaliada pelos vereadores, e uma nova definição para a presidência foi concretizada. Conforme Caregnato, todo o processo foi feito com muita conversa e, principalmente, com boas articulações políticas entre os envolvidos.
Referente a seu mandato como presidente, diz que pretende aproximar a Câmara da população e desmistificar os processos legislativos. Já sobre sua relação com o Governo Adiló, destacou que manterá o diálogo e colocará como prioridade os interesses da população caxiense.
Confira a entrevista completa abaixo
Pioneiro: O senhor entra no segundo mandato como vereador. Agora é a primeira vez que vai ser presidente. Qual é o sentimento de assumir esse cargo?
Lucas Caregnato: Eu sou muito comprometido com o meu trabalho. Aqui, na minha estada como vereador, sempre chegava muito cedo, ia embora muito tarde. Mas eu procuro sempre valorizar o espaço em que eu estou. As pessoas me dizem: "Nossa, você é vereador, tu não deve ter saudade da escola, de quando era professor", mas tem uma saudade afetiva do espaço. O que quero dizer é que eu procuro valorizar onde eu estou, mas não há um deslumbramento. Lógico que é uma grande responsabilidade, e eu tenho alegria em poder, de alguma forma, representar todos os colegas, naquilo que a função delega. É a terceira vez na história que uma pessoa do meu partido assume essa função. A segunda vez que um negro é presidente da Câmara. A primeira foi o vereador Edson da Rosa (hoje no Republicanos). Então, me sinto feliz, honrado e da mesma forma que eu trabalhava muito como professor, como vereador, eu vou, junto com a minha equipe, me esforçar ao máximo, tendo em vista o fato de nós estarmos na segunda maior casa legislativa do Estado.
Como foi o debate para a escolha da Mesa Diretora?
Então, para começar, cabe sempre destacar que o Poder Legislativo, naturalmente, já é um poder de discussão de ideias, de convergências e divergências, seja no que se refere à elaboração de leis, das leis que o Poder Executivo manda para cá, as discussões referentes ao processo de fiscalização. Na legislatura passada, o critério que se utilizou (para a presidência) foi a representatividade (maiores bancadas). E nós fomos signatários, o que resultou na eleição dos dois presidentes e duas presidentas nessa medida. Mas a Casa legislativa é uma casa de discussão e que envolve a construção de consensos. Nós consideramos, por demais, a representatividade, mas a articulação política enseja agregar mais pessoas. E eu acho que foi exatamente isso que aconteceu aqui. A gente sempre considerou a representatividade, mas ao mesmo tempo, e, na mesma medida, sempre disse que a articulação política, a capacidade de interlocução política com os diferentes foi importante.
E tem o fato que o PP está na Mesa. Foi essa questão do partido ter tido uma boa articulação?
Pois então, já me questionaram isso também. Eu não vejo surpresa alguma. Eu utilizo como exemplo a Assembleia Legislativa. Lá nós temos a sucessão de presidentes de diferentes partidos, baseado nos interesses que os partidos têm para com a institucionalidade. Quando a gente pensa na Câmara Federal, nós temos o (Arthur) Lira (PP-RS) de presidente e a Maria do Rosário (PT-RS) como segunda secretária, sabe? Então, demonstra que o Parlamento é um espaço da diversidade. O vereador Bortola (PP) está na Mesa porque a Mesa precisa demonstrar esse caráter representativo das diferentes visões ideológicas de mundo.
A forma de comunicar é de cada vereador, mas, sim, nós precisamos ter apreço e cuidado com o nosso regimento, com o respeito e cordialidade que todos precisam ter e manter aqui no Parlamento
LUCAS CAREGNATO
Presidente da Câmara em 2025
Como o senhor vai trabalhar para manter o nível do debate na Câmara em uma composição com questões ideológicas mais pulsantes?
Primeiro que acho que as eleições municipais na cidade demonstraram que as pessoas esperam dos políticos um trabalho. E quando eu falo trabalho, eu não desconsidero as visões ideológicas, porque elas estão postas naquilo que os vereadores ou o prefeito realizam, mas eu escutei muito isso, que as pessoas esperam muito mais de que discursos acalorados, e o calor do discurso pode estar relacionado a respeito – e não significa que a pessoa tenha uma fala mais contundente que ela desrespeita a outra pessoa. Mas, ao mesmo tempo, para reforçar isso, acho que quem vem à Câmara achando que é YouTube, se engana, porque é mais que isso. E as urnas demonstram ou cobram. A minha função, enquanto presidente, vai ser seguir o Regimento Interno. Os trabalhos vão ser conduzidos com respeito e com capacidade de interlocução. Isso a gente já tem. E, logicamente, focando naquilo que cabe ao vereador, que é legislar, que é fiscalizar, eventualmente, julgar. Lógico que a forma de comunicar é de cada vereador, mas, sim, nós precisamos ter apreço e cuidado com o nosso regimento, com o respeito e cordialidade que todos precisam ter e manter aqui no nosso Parlamento.
Já sobre a relação com o Governo Adiló, como será?
A nossa bancada, o PT, está aqui desde 1989. Estou dizendo isso, pois demonstra a responsabilidade que a gente tem, seja aqui no Parlamento quanto oposição ao Governo Adiló. Mas, em temas essenciais para a cidade, que eram necessários e positivos, nós votamos favoráveis. Nós nunca fizemos uma oposição irresponsável. Jamais. De 89, quando o Pepe (Vargas, vereador na época e hoje deputado estadual) fez oposição ao Governo Mansueto (de Castro Serafini Filho), até hoje, nós temos extrema responsabilidade. Então não causa nenhuma estranheza nós termos um presidente do Parlamento que seja de um partido que faz oposição ao prefeito, na medida que a minha função enquanto presidente é seguir o regimento, colocar os projetos em votação, dentro do prazo, lógico, garantindo a devida discussão. Mas uso como exemplo a então vereadora e hoje deputada Denise (Pessôa do PT), que foi presidente da nossa Casa e que seguiu o rito e em nenhum momento desrespeitou o nosso regimento. O que não significa que as minhas posições, enquanto vereador, de oposição ao governo, não sejam expressadas no momento que eu achar adequado. Mas naquilo que diz respeito ao cargo da presidência, nós vamos fazer o que o nosso regimento determina.
A minha função, enquanto presidente, vai ser seguir o Regimento Interno. Os trabalhos vão ser conduzidos com respeito e com capacidade de interlocução
LUCAS CAREGNATO
Presidente da Câmara em 2025
E agora, como presidente, você tem algum projeto para a Casa?
Nós vivemos um tempo de antipolítica. E isso justifica que muitas pessoas, principalmente por desconhecimento, não entendam a real importância das instituições e o trabalho dos políticos. E uma das formas que eu penso em melhorar ou diminuir essa rejeição é de que a nossa função seja conhecida e de que o Parlamento se democratize. Em que sentido? No acesso. Eu acho que, em vez das pessoas virem à Câmara, a Câmara precisa fazer um movimento de ir até as pessoas através de encontros, de sessões. Nós entendemos que a Câmara precisa se comunicar de uma forma mais efetiva, mais fluida, mais ágil, uma linguagem acessível. Neste primeiro momento, a gente está fazendo um diagnóstico da situação da Câmara, mas na primeira sessão ordinária, nós pretendemos apresentar um pouco da linha de trabalho nesse ano e a participação popular certamente é algo fundamental.