Cerca de dois meses e meio após a visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, aos parques nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral, em Cambará do Sul, as audiências públicas necessárias para o governo federal encaminhar o processo de concessão à iniciativa privada ainda não foram marcadas. Conforme o prefeito de Cambará, Schamberlaen Silvestre, devem receber audiências públicas os três municípios abrangidos pelos parques: além de Cambará do Sul, no lado gaúcho, os municípios de Praia Grande e Jacinto Machado, em Santa Catarina.
Em abril, quando esteve na região, Salles estimou para outubro a conclusão do processo de concessão. Embora as audiências públicas ainda não tenham data, o prefeito mantém a expectativa inicial.
— Acreditamos que o processo seja concluído dentro desse prazo, de outubro ou até novembro. Teríamos uma reunião com representantes do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade e governo federal na semana passada, mas não vieram por problemas de agenda. No início de julho, eles devem vir para dialogar com a equipe interna do parque e a sociedade — estima Schamberlaen Silvestre.
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O prefeito explica que, a partir das audiências públicas, será formulado um termo de referência para embasar o edital da concessão. Quando esteve na região, o ministro Ricardo Salles cogitou a possibilidade de a concessão envolver todo o grupo de parques da Serra, incluindo a Floresta Nacional de Canela e a Floresta Nacional de São Francisco de Paula, que ele também visitou na ocasião. Salles também comentou sobre a possibilidade de os editais de concessão serem abrangente para estimular a criatividade de empresários interessados na concessão em relação às propostas que vão apresentar, e também a possibilidade de interesse de operadores internacionais na administração dos parques.
Desde 2016, não há bilheteria na entrada dos visitantes dos cânions Itaimbezinho e Fortaleza por conta do fim de um contrato com uma empresa terceirizada que prestava o serviço. A prefeitura e voluntários apoiam com serviços de manutenção e estacionamento, por exemplo.
— A região está esperançosa. Até porque, a partir da concessão, o primeiro ganho é a própria preservação — comenta o prefeito.
A reportagem aguarda retorno do Ministério do Meio Ambiente sobre a perspectiva para agendamento das audiências públicas e até a publicação, às 13h50 desta segunda (24), não obteve este retorno.
Reconhecimento da Unesco
Na última semana, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, esteve na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris, para defender a candidatura dos cânions da divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina como "geoparque da humanidade". De acordo com o ministro, o reconhecimento da Unesco é fundamental para potencializar o turismo na região.
A iniciativa do pedido partiu de um consórcio de sete municípios desta região, e foi levada ao ministro pelo prefeito de Cambará, Schamberlaen Silvestre, que é o vice-presidente do Consórcio Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul. Integram o consórcio os municípios de Cambará do Sul, Mampituba e Torres, no lado gaúcho, e Praia Grande, Jacinto Machado, Timbé do Sul e Morro Grande, em Santa Catarina.
Conforme Silvestre, o consórcio existe há cerca de 10 anos. Ele explica que o primeiro objetivo com a busca do reconhecimento pela Unesco é a conservação do patrimônio geológico, que tem características semelhantes nessa região, como formações basálticas específicas.
— Com isso, você pode promover a pesquisa científica, educação sustentável e valorização do patrimônio cultural. Vai integrar uma região, transformando o turismo em regional, trazendo oportunidades de negócios — defende.
O prefeito cita também a possibilidade de garantir a preservação para a pesquisa, por exemplo, de paleotocas na região, que são abrigos cavados por animais extintos. Segundo ele, são mais de 20 cânions abrangidos nessa área territorial, que compreende 2.830 quilômetros quadrados. A área vai até o mar. Um dos parques situados nessa região é o da Guarita, em Torres.