Poucas horas depois de ter seu nome anunciado como novo ministro da Secretaria das Relações Institucionais (SRI) do governo Dilma Rousseff, o petista Pepe Vargas atendeu a reportagem do Pioneiro e da sucursal do Grupo RBS em Brasília. Por telefone, falou sobre os principais desafios que terá à frente da pasta, e atribuiu à larga experiência nos poderes Executivo e Legislativo a confiança para desempenhar um bom trabalho de articulação política. Também afirmou ter recebido telefonema do prefeito de Caxias do Sul, Alceu Barbosa Velho (PDT), a quem garantiu que seguirá como representante dos interesses do município em Brasília. Abaixo, confira aos principais trechos da entrevista:
Pioneiro: Qual é o seu principal desafio na articulação política neste começo de segundo mandato presidencial?
Pepe: Estabelecer o diálogo do governo com o Congresso Nacional, com entes federados, prefeituras e governos estaduais. É uma pauta fundamentalmente de articulação política, não é um ministério que executa políticas públicas, mas articula a tramitação e a aprovação do marco legal da legislação. Uma quarta questão neste início de mandato é assessorar a presidenta no processo de montagem do governo. À medida que fica difícil a presidenta se envolver com todos os temas, então a SRI ajuda nesse processo de debate com os partidos, com a base aliada, com os setores da sociedade na formação do governo.
É um ministério político, que envolve interesses de diversos partidos. O senhor tem perfil adequado pra lidar com isso?
Vivemos e lutamos pela democracia. No processo democrático, seria ilusão achar que a relação entre governo e Congresso Nacional não seja dentro de um princípio de independência, porém, de harmonia entre os poderes. Esse é um princípio constitucional. Eu não tenho a ilusão de achar que como ministro das Relações Institucionais vou conseguir fazer com que o Congresso concorde com 100% daquilo que a gente encaminhar, e nem o contrário. A grande arte desse processo é tu estabelecer um diálogo franco, aberto, leal dizendo o que é possível, o que não é possível.
Questionaram sua capacidade de articulação. Qual a sua opinião sobre os comentários?
Fui vereador, prefeito, deputado estadual, fui eleito para o terceiro mandato como deputado federal, fui ministro do governo Dilma. Há currículos mais vistosos, mas tenho experiência e a confiança da presidente, que me fez o convite.
Por que correntes do PT supostamente estavam ligadas ao Lula estariam contra o seu nome para o Ministério?
Tu ouviu o Lula falar? O Lula deu alguma entrevista? Política não se faz na presunção. Política não se faz no dizem que o fulano disse. Com todo o respeito que eu tenho a todos os veículos de imprensa, nem tudo que está na imprensa é verdade. É a presidente que tem que dizer quem vai ser ministro. Ela me chamou lá na segunda-feira passada, pediu se eu estava em Caxias ou em Brasília. Eu estava em Brasília. Ela disse: "então vem aqui que eu quero falar contigo". Conversamos, ela fez o convite e pronto. Disse: "eu anuncio terça ou segunda-feira. Talvez anuncie algumas coisas terça e outra segunda". E assim foi.
Como vai lidar com a instabilidade provocada pelas denúncias na Petrobras
Não temos receio nenhum desse assunto. Nosso governo é protagonista das investigações. As investigações, seja no que for, só acontecem hoje porque temos instituições públicas federais que foram aparelhadas para combater a corrupção e têm autonomia e independência para combatê-la. Eu falo da Controladoria Geral da União, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. O chefe do Ministério Público Federal foi indicado pela Presidência da República e ela, assim como o Lula, sempre colocou o mais votado entre os promotores públicos federais (da lista tríplice). Não tem mais transferência de delegado da Polícia Federal que tá investigando algo. Estamos descobrindo a corrupção que já existia há muitos anos em vários órgãos. É importante que as investigações aconteçam e que os responsáveis por ilícitos sejam culpados, corruptos e corruptores.
A presença no ministério afasta o senhor de eventual disputa à prefeitura de Caxias em 2016?
Quem é que está discutindo prefeitura? Ninguém tá discutindo prefeitura agora.
Não é sacrifício assumir um Ministério com forte peso político e pouca exposição?
A SRI tem mais exposição que o ministério (Desenvolvimento Agrário, MDA) que eu dirigi até maio desse ano, embora o MDA tenha orçamento e a SRI, não. É só pegar qualquer jornal do Brasil e ver quantas vezes a Ideli (Salvatti, ex-ministra da SRI) aparecia na mídia e quantas vezes eu aparecia. Ela aparecia muito mais, pois a SRI é um dos três ministérios que trabalham no Palácio do Planalto junto com a presidenta. A visibilidade é muito maior.
Quando o senhor estava à frente do MDA, o prefeito Alceu disse que o seu gabinete era uma embaixada caxiense em Brasília. Nesta nova função, esse papel se fortalece?
O Alceu me ligou ontem (segunda) à noite, até tinha deixado o celular em casa. Eu retornei o telefonema, conversamos, ele dava já como certo que eu fosse para o ministério. "Oh, Alceu, eu ainda não tenho a confirmação, mas, se eventualmente eu for escolhido, tu sabe que tanto como antes nós estamos integralmente à disposição da prefeitura e da comunidade de Caxias do Sul".
De que forma será essa disponibilidade?
A diferença é que algumas das demandas de Caxias como Ministro de Desenvolvimento Agrário eu podia decidir diretamente. Agora não, eu vou ter que depender de outros, mas estou à disposição.
Quando será a posse?
Dia 1º, junto com a presidente, e já começo a despachar. O trabalho não para. Já tive uma reunião com o Ricardo Berzoni (titular da SRI) para acertarmos a transição.
A possível eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder do blocão, como presidente da Câmara pode dificultar a articulação?
Há três candidatos para presidência da Câmara dos Deputados, o Eduardo Cunha, o Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o Júlio Delgado (PSB-MG). Não há resultado definido, o jogo está sendo jogado. Vamos dialogar da melhor maneira possível.
Política
Caxiense Pepe Vargas fala sobre desafios à frente da Secretaria das Relações Institucionais
Petista, que será responsável pelas articulações políticas do governo Dilma, afirma seguir à disposição do município em Brasília
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