Aline Mussoi, 20 anos, e Emanuel de Lucena Scheifler, 26, representarão os jovens agricultores da Serra gaúcha em um projeto que levará 18 produtores rurais para um intercâmbio de quatro meses ao Canadá. A iniciativa, denominada Young Farmers (jovens agricultores, em tradução livre do inglês), nasceu de um desejo pessoal do empresário Paulo Herrmann, CEO da Fiergs, e conta com a parceria da Emater, patrocinadores, e o suporte do Consulado Canadense.
Cada jovem selecionado para o Young Farmers recebeu investimento de R$ 80 mil, cobrindo despesas de viagem, hospedagem, alimentação, capacitação e todas as atividades no Canadá. O principal objetivo do programa é conectar os jovens ao cenário global, apresentando novas tecnologias, práticas sustentáveis e métodos avançados de agricultura.
— Nós queremos criar uma geração de agricultores gaúchos que fale inglês perfeitamente, que se conecte com o mundo, tenha relacionamentos e entenda os mecanismos, sejam líderes transformadores não só da propriedade deles, mas do entorno em que vivem, e do nosso Estado — diz Herrmann sobre o Young Farmers.
Aline é moradora da localidade de Juá, no interior de São Francisco de Paula. Na propriedade em que vive com o pai, Renato, a mãe, Aliceli, e a irmã Rafaela, cultiva maçãs e caquis. Eles têm sociedade com outros quatro tios da jovem que trabalham na produção. A família vende as frutas na Ceasa de Porto Alegre.
Ela, que tem curso de Técnica Agropecuária, pela Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (EfaSerra), de Caxias do Sul, ficou sabendo do projeto pela Emater. Para ser selecionada, fez uma prova escrita e outra oral em inglês. O idioma foi um dos maiores desafios para a jovem que mora no interior de São Chico, mas acredita que o projeto será fundamental para o desenvolvimento da propriedade familiar.
— O conhecimento que vou adquirir lá vai ser gigantesco, é um país com mais desenvolvimento, que tem mais tecnologia, então eu acredito que vou conseguir trazer novos manejos para a propriedade e para o município, assim como levar para eles algum conhecimento nosso daqui — projeta Aline.
Para auxiliar a família
Tendo os produtos originários do leite como foco da agroindústria familiar, Emanuel também pensa em trazer conhecimentos e novas aplicações à propriedade em que vive com o pai, Flávio, e a mãe, Elisana, com quem mora na localidade do Morro do Chapéu, em São Francisco.
A família tem cerca de 20 cabeças de gado, mas, normalmente, de quatro a cinco ficam em lactação. Mensalmente, são produzidos cerca de 620 litros de leites. Na agroindústria também produzem farináceos, como pães, bolos e biscoitos, que são distribuídos em escolas da rede estadual de São Chico. Ele realizou as mesmas provas que Aline, e foi indicado pela Emater.
— Vai ser uma baita experiência, eu estou focando em aprender mais o inglês, mas estou estudando as propriedades que existem lá. Mandamos nossa história para o pessoal que está organizando o projeto para eles irem atrás de fazendas e locais que seriam interessantes para fazer essa imersão. Ao mesmo tempo, eu estou pesquisando e vendo várias propriedades de lá, várias histórias que estão acontecendo, já estou antenado para isso, para chegar e aproveitar o máximo — comenta o jovem produtor rural.
Scheifler acredita que conseguirá trazer atualizações capazes de auxiliar no melhoramento de pastagens e genética, na manutenção e organização do campo, além das boas práticas agropecuárias.
— E o outro lado é a parte de negócios, que eu acredito que vai ser bem importante, pensar em distribuição, em turismo, que acredito que vamos ver bastante coisa sobre turismo rural, porque ali na minha região é uma área que está crescendo muito em São Chico, e acho que no futuro é esse caminho que vamos acabar seguindo — finaliza.
Como será
Na primeira etapa do projeto, ainda no Brasil, os participantes passam por quatro semanas de inglês especializado no agronegócio, seguidas por oito semanas de formação acadêmica, abordando temas como comunicação nos negócios internacionais, sustentabilidade, inovação tecnológica e os desafios econômicos do setor agrícola.
O embarque para Vancouver, no Canadá, está previsto para o final de março, onde continuarão com a formação acadêmica por cinco semanas, se aprofundando em tópicos avançados sobre agricultura familiar canadense e técnicas sustentáveis.
Posteriormente, os estudantes participam de uma imersão prática de quatro meses em propriedades rurais, acolhidos por agricultores locais, em que poderão aplicar o conhecimento em operações reais e trocar experiências.
— Eles vão começar em Vancouver, porque lá está a escola, e depois eles serão esparramamos em um raio de seis quilômetros em diferentes propriedades. Por exemplo, alguém que vem de uma família que mexe com frutas, vamos procurar colocar em uma propriedade que faz coisas semelhantes, a não ser que não queiram — explica Paulo Herrmann sobre como funcionará o intercâmbio.
O Canadá foi escolhido pela abertura a novas culturas e por compartilhar com o Brasil características como vasta extensão territorial e diversidade cultural. Após o intercâmbio, os jovens serão recebidos pela Emater e pelos patrocinadores no Brasil, que acompanharão a implementação dos projetos desenvolvidos durante o intercâmbio.
Ao final do programa, cada estudante recebe um certificado emitido pelo Ministério da Educação do Canadá, validando a formação internacional e abrindo novas perspectivas para a aplicação das habilidades no Brasil.