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A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Smel), responsável pela manutenção do parques e praças de Caxias do Sul, lacrou, pela terceira vez em 2021, as cestas de basquete dispostas na quadra esportiva localizada na Rua Plácido de Castro, bairro Exposição. A medida ocorreu após a recorrente utilização indevida do espaço — uma vez que a prática de esportes como o basquete está proibida por decreto em função da pandemia. De acordo com o titular da pasta no município, Gabriel Citton, cadeados foram usados para impedir o uso das tabelas, obstruindo a passagem da bola pelo aro mas, menos de 24 horas depois, o material foi removido, inclusive com a depredação da estrutura.
— Colocamos os cadeados na quarta-feira (31) e na quarta (1º), pela manhã, já tinham sido furtados, inclusive estragando o equipamento que agora vai ser consertado pela nossa equipe de manutenção — afirma o secretário, que continua realizando a manutenção dos espaços ainda que não estejam com uso autorizado.
— A gente continua mantendo tudo em dia, para que quando possam voltar a ser utilizados estejam em condições — complementa Citton.
Ele afirma que, medidas como o isolamento de goleiras com fitas e também a disposição de cartazes informando a proibição da prática de esportes em grupo, como basquete e futebol, foram dispostas em pelo menos outras duas ocasiões desde o início da atual gestão, na quadra do bairro Exposição e também em outras quadras da cidade, mas que em todos os casos eles foram removidos por pessoas que insistem em utilizar estes espaços.
— Ainda não houve reunião do COE (Centro de Operação de Emergência) a respeito de como podemos proceder com isso. Uma remoção dos equipamentos, por exemplo, seria até mesmo inviável em alguns casos e acho que o caminho é a conscientização das pessoas — conclui.
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Para o coordenador da equipe de fiscalização da prefeitura, Rodrigo Lazzarotto, a remoção dos equipamentos não é solução. Ele cita como exemplo o caso da Praça Dante Alighieri, no centro da cidade, onde os assentos dos bancos chegaram a ser removidos, mas a estrutura fixada no chão continua sendo utilizada como encosto durante a permanência — também proibida por decreto — de pessoas no local.
Ele afirma que a fiscalização encontra dificuldades diante da falta de consciência das pessoas que descumprem o regramento referente aos espaços públicos, em atitudes recorrentes sobre as quais, nem sempre, as equipes conseguem agir.
— Praticamente todos os parques e praças estão irregularmente ocupados o tempo todo, algo que se repete desde o início da pandemia, especialmente aos finais de semana. Eu estou descrente de que qualquer restrição física, porque as pessoas invadem, acham formas de utilizar. Sinceramente vejo que isso é uma questão de educação das pessoas — relata o coordenador, que não soube informar o total de casos do tipo verificados.
A equipe de fiscalização conta hoje com 46 agentes das secretarias de Urbanismo, Meio Ambiente e Saúde, por meio da Vigilância Sanitária. Conforme Lazzarotto, o número é relativamente baixo para o tamanho da cidade. Conforme dados da Smel, são cerca de 40 quadras poliesportivas em toda cidade, além de outros espaços públicos fiscalizados, bem como os estabelecimentos comerciais.
A prefeitura diz não considerar um aumento de fiscais pois afirma que, mesmo com uma equipe maior, o combate à ocupação indevida dos espaços ainda é seria um desafio.
— Nem mil fiscais adiantariam se a população não se conscientizar. Neste final de semana, tinha locais onde estavam utilizando chinelos como goleiras, então também não adianta remover os equipamentos, mas esse é um caso que certamente será levantado em reunião ainda para que a gente possa chegar a um consenso do que pode ser feito. Desde março de 2020 a gente vem falando da conscientização das pessoas, se isso não acontecer, sem esse apoio, nenhuma ação vai ter eficácia — afirma o secretário de Urbanismo, João Uez, integrante do COE de Caxias.
Guarda busca conscientizar
Imagens de um jogo de basquete ocorrido no domingo (28), na quadra da Plácido, foram compartilhadas em redes sociais ao longo da semana. Um vídeo de oito segundos mostra pelo menos 12 homens jogando na quadra que fica próximo ao um posto da Guarda Municipal (GM). No vídeo de autoria desconhecida, apenas quatro participantes utilizam máscara, sendo que um deles o faz de forma incorreta — sem cobrir a boca e o nariz.
— Esse ponto da Plácido é nossa central de monitoramento, onde recebemos as ligações pelo 153 e outras demandas, dando os devidos encaminhamentos. Assim que a aglomeração nos foi informada, duas viaturas foram deslocadas para lá, realizando a dispersão do grupo e orientando em relação aos cuidados a serem tomados — afirma Alex Oliveira Kulman, diretor da GM, uma das forças que auxilia ações da fiscalização.
O responsável operacional, Alexandre Rodriguez Silveira, diz que os guardas têm atuado no sentido de dispersar e orientar a população e que, mesmo após um ano de pandemia, ainda se deparam com pessoas despreocupadas com o vírus e com a saúde alheia.
— A principal dificuldade é o convencimento das pessoas que não se vêem como alvo do coronavírus. No início até parecia ser um público específico mais afetado, como os idosos, mas agora a gente sabe que não é mais assim. Encontramos pessoas que negam a pandemia, não aceitam usar máscara, bares e restaurantes de portas fechadas mas funcionando clandestinamente, por diversas vezes. No caso das quadras, já sugerimos à prefeitura que remova tudo porque chega um ponto que não conseguimos convencer a população — relata Silveira.
Desde o início da pandemia, a Guarda Municipal tem atuado em ações de dispersão e orientação de pessoas aglomeradas em espaços públicos da cidade. Ao todo a equipe conta com 167 efetivos. De acordo com a direção, somente em 2020 foram 350 ações do tipo na cidade. Ainda em relação à pandemia, as equipes também são responsáveis pela escolta dos lotes de vacinação que chegam à cidade e atuam na segurança das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) assim como das ações de vacinação em formato drive-thru.
"Mesmo ao ar livre, atividades em grupo não são seguras", destaca infectologista
A prática de esportes têm sido, para muitas pessoas, uma alternativa para manter a saúde física e mental no isolamento social recomendado por especialistas, incluindo a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) desde o início da pandemia. A infectologista Viviane Buffon alerta, porém, que nem todas as práticas são recomendadas.
— As atividades físicas em grupo não são seguras mesmo em ambientes ao ar livre, especialmente nesse momento que estamos com alta taxa de transmissão e com maior número de jovens e infectados adoecendo por covid-19 — destaca a médica.
Em Caxias do Sul, até a tarde dessa segunda-feira (5), estavam registradas 746 mortes por covid-19, sendo que 26 pessoas com idades de 19 a 39 anos estão entre as vítimas. Dos 39.540 casos positivos para a doença registrados até a mesma data na cidade, o maior percentual, 23% (9.476 casos) referem-se à faixa dos 30 aos 39, seguida pela faixa dos 19 aos 29, que totaliza 8.118 casos. Os dados são do Painel Covid Caxias do Sul.
— O ideal é não realizar atividades físicas que propiciem contato físico e aglomeração e lembrar que o uso de máscara deve ser feito com o cuidado de trocar a mascara se estiver úmida. Além das pessoas que estão praticando o esporte, há normalmente outras que acompanham os jogos. Essas se estiverem próximas, sem máscara e compartilhando objetos, pode também se infectar — aponta Viviane.
A infectologista também chama a atenção para o atual contexto de alta ocupação hospitalar gerado pelo aumento de casos e pelo agravamento da doença registrado em todo o Estado. Ainda conforme dados municipais, na tarde de segunda-feira eram registrados 192 pacientes internados por covid-19 em hospitais de Caxias do Sul. Essas internações somadas às motivadas por outras situações ocupam 92,46% dos leitos disponíveis.
— Na medida que os índices de hospitalização e morte forem reduzindo, acredito que poderemos novamente praticar atividades em grupo de forma segura — completa.