Há pouco mais de um ano, um jovem de 19 anos via seu sonho desabar. Apaixonado pela dança tradicionalista, Willian Comunello não acreditou quando, em outubro de 2014, o médico sentenciou que era preciso amputar parte da perna devido a um câncer que surgiu, em abril, no pé esquerdo. Primeira coisa que pensou: não vou mais poder dançar. Veio a desolação, o desânimo, a revolta. O pior: como viver sem a dança?
Willian é um desses guris do bem. Mora em Nova Prata, a 115 quilômetros de Caxias, tem uma família estruturada, amigos de caráter e integra o CTG Pousada do Imigrante, da vizinha Nova Bassano. O grupo lutou com ele na guerra que se seguiu. O Pioneiro também entrou na luta, num primeiro momento sem a sua permissão. Tímido, relutou em aparecer e contar sua história ao mundo. Venceu a timidez e, hoje, fala de sua vida com espontaneidade. O melhor disso tudo: voltou a dançar, a ser feliz. Vai participar do maior festival de arte amadora da América Latina, o Encontro de Arte e Tradição (Enart), no próximo final de semana, em Santa Cruz do Sul.
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A história do Willian estampou duas páginas do Pioneiro, no dia 28 de abril de 2015. Começou uma nova etapa na trajetória do peão. A reportagem sensibilizou um empresário de Sorocaba, São Paulo, que resolveu doar uma prótese moderna ao Willian. Nelson Nolé, da Conforpés, se deslocou até Caxias (por conta própria), foi até Nova Prata para conhecer o dançarino e sua família. Encontrou um jovem pálido, de cabeça baixa, com um olhar triste, mas no fundo deles, uma linha de esperança.
Com a experiência de seus 70 anos, Nolé foi tirando seus apetrechos de uma sacola e moldou a perna de Willian. Comeu pinhão, experimentou o vinho da Serra gaúcha e voltou à sua cidade no mesmo dia. Foi tudo muito intenso. Ninguém sabia ao certo como seria a prótese a ser produzida sob medida, sem custo algum. Deixou um rastro de luz.
Quinze dias depois contatou a família informando que o paciente precisaria ir a Sorocaba para provar e ajustar a prótese que o colocaria de volta aos palcos tradicionalistas. Ele foi. Junto com o pai, enfrentou uma viagem de avião até a capital paulista. Lá, um motorista da empresa o aguardava para levá-lo a Sorocaba. Dois dias depois retornou ao Sul caminhando, com a nova prótese na perna.
- Vivi uma experiência incrível. Conheci a impressionante estrutura da empresa, as equipes que realizam o sonho de pessoas mutiladas e, principalmente, como essa gente é incrivelmente do bem - ressalta Willian.
Agregou tudo isso à sua bagagem de conhecimento e voltou a dançar sendo uma pessoa melhor, muito melhor. O Pioneiro informou e transformou a vida do Willian.
Trinta dias após ganhar a prótese, William Comunello voltava a ensaiar com o CTG Pousada do Imigrante. Estava ansioso. Segundo os amigos, assim que retornou de Sorocaba com a prótese, começou a articular os passos da dança. Sozinho, em casa, tentava os movimentos mais difíceis. Não foi fácil. A prótese é leve, faz uma série de acrobacias, mas em alguns momentos falta o impulso necessário que as competições tradicionalistas exigem. No palco, dançou duas músicas, foi aprovado pelo professor, mas precisava treinar muito para enfrentar as competições.
Dia 27 de agosto, na eliminatória em São Jerônimo, o Pousada do Imigrante se classificou para o Enart. O grupo dança no próximo sábado à noite em Santa Cruz do Sul. Lá vai o Willian em busca do seu sonho. No último domingo, no rodeio de Vila Flores, o CTG saiu com a taça de primeiro lugar.
- Não consigo ficar sem minha prótese. Ela me ajudou a ter uma vida normal. Estou liberado pelo médico para trabalhar, estudar e dançar.
A prótese foi apenas um acessório. O que mais conta é a garra e a determinação desse jovem querer vencer. Com ele, vence a família, o CTG, os amigos e nós da reportagem do Pioneiro.
#informaretransformar
Após ganhar prótese, William Comunello, de Nova Prata, está de volta aos palcos
Jovem de 20 anos dançará neste sábado no Enart. Publicação integra série de conteúdos que reforçam o propósito do Grupo RBS
Ivanete Marzzaro
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