De Bento para o mundo: Tarcisio De Bacco venceu na terra dos antepassados

O bento gonçalvense Tarcisio de Bacco, 57 anos,  não só realizou o sonho dos antepassados imigrantes - tornou real também o desejo de muitos italianos. Vivendo há 30 anos na Itália, há 16 é proprietário do icônico restaurante Biffi, na Galeria Vittorio Emanuele, em Milão. O estabelecimento foi construído em 1867 e recebeu personalidades do mundo todo, de Giuseppe Garibaldi e Giuseppe Verdi a Ayrton Senna. Hoje, são 30 a 40 brasileiros por dia e, nos períodos de feira de móveis ou design, o português vira uma espécie de idioma oficial do lugar.

Ao recordar a própria trajetória De Bacco evoca os antepassados imigrantes.

- Me sinto sortudo, orgulhoso e feliz, por não ter tido as facilidades que os jovens de hoje têm. Assim, eu posso imaginar o que os nossos avós imigrantes passaram - relata.

Aos 27 anos, o empresário foi de férias para a Itália e decidiu não voltar - ficou três anos sem retornar ao Brasil, trabalhando limpando chão e lavando pratos.

- Não era um lavador de pratos qualquer. Eu era o melhor lavador de pratos do lugar. Eu via que o cozinheiro pegava os pratos e decidia o que os funcionários iriam comer. Sabia que iria comer num daqueles que eu lavava, então sempre fazia o meu trabalho da melhor maneira possível - relembra.

As influências italianas da Serra o fizeram perceber que, em alguns momentos, era até mais italiano (por causa de valores culturais, explica) do que alguns nascidos no país e que o discriminavam, no início da trajetória europeia.

- Quem sai de casa e vai desbravar o mundo tem espírito de vencedor. Empreendedorismo é consequência, porque a gente não tem a comodidade da família. Para quem quer construir algo, não importa o quê, mas como - ensina.

Percebe que hoje o acesso às informações sobre o lugar e a comunicação transoceânicas estão mais fáceis, possibilitando que até as pessoas mais jovens tenham orgulho da descendência. Esse orgulho todo só vai embora quando discorre sobre as migrações contemporâneas:

- A Itália teve o povo que mais imigrou. Por que, agora, não pode receber imigrantes?